O termo técnico usado pelo mercado imobiliário para explicar o custo tão alto de viver em Lourdes é "âncora", jargão que serve para se referir aos atrativos do local. "Em toda cidade os bairros mais valorizados são os que são melhor ancorados. Quando falamos de uma cidade que tem praia, o m² mais caro está perto do mar", detalha Flávio Galizzi, vice-presidente da área de corretoras da Câmara do Mercado Imobiliário e do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais.
Em São Paulo, Galizzi explica, são os bairros próximos ao parque do Ibirapuera os bem "ancorados". No Rio de Janeiro, os que estão na zona sul e, principalmente, na orla da praia, é claro, são os mais caros. Em Belo Horizonte um conjunto de fatores fazem de Lourdes o mais valorizado: a proximidade das praças da Liberdade e Marília de Dirceu, a presença do Minas Tênis Clube e a proximidade com os shoppings Diammond Mall e Pátio Savassi, além é claro, de estar próximo ao centro da cidade e colado na avenida do Contorno.
Moradores fiéis
Quem não se incomoda com o aumento da atividade comercial no bairro é Lúcia Henrique, de 91 anos.
Enquanto Lúcia escolhia os legumes para o almoço, Valdir Oliveira, de 70 anos, caminhava pelas ruas do bairro, após um passeio no Minas Tênis Clube. Valdir foi goleiro do Cruzeiro entre 1959 e 1966 e até a chegada de Raul Plasmann, em 1965, era o reserva imediato de Tonho. Teve a carreira encerrada após um acidente de carro, quando ia para Sete Lagoas de carro disputar uma partida ante o Democrata. Após deixar o futebol, Valdir formou-se em educação física, foi professor, diretor de escola e hoje, aposentado, curte a vida no bairro. "Morava na Floresta, mas gosto muito daqui. Tem ótimas praças e um nível cultural excelente", destaca o ex-goleiro, que fez parte do elenco campeão da Taça Brasil, em 1966.
O anúncio de uma cobertura por R$ 15 milhões, no edifício Ulisses, na rua Rio de Janeiro, chocou o mercado no final de 2013. O imóvel de 700 m² teve o valor muito acima da realidade do bairro: R$ 21 mil por m². A bagatela se justificou com os predicados do imóvel, que inclui quatro suítes, sendo que uma tem 70 m², o que é maior que a maioria dos apartamentos à venda na cidade. Também tem piscina privativa, sauna e piso de mármore grego. Outro atrativo do imóvel é a vista definitiva, pois a frente está o colégio Estadual Central, uma obra projetada por Oscar Niemeyer e tombada pelo valor histórico e arquitetônico.
O diretor comercial da construtora Agmar, Jackson Câmara, tenta desmitificar um pouco os preços elevadíssimos e que fogem do padrão do mercado.
Jackson explica que é difícil definir o valor do m² por bairro. "Têm regiões do bairro Funcionários que são mais valorizadas que algumas áreas de Lourdes. No Belvedere, por exemplo, que está fora da região central, é possível construir prédios melhores, mais modernos, com quadras de tênis e mais vagas de garagem", compara o diretor da construtora Agmar. De acordo com Jackson, um imóvel padrão da construtora em Lourdes tem cerca de 220 m² e valor de mercado médio de R$ 3 milhões..