O problema com os trotes não é novidade. Há pouco mais de 16 anos, em fevereiro 1999, o estudante Edison Tsung Chi Hsueh, que era calouro do curso de Medicina da Universidade de São Paulo, morreu vítima de afogamento após ser jogado na piscina durante um trote. O caso ganhou repercussão nacional e impulsionou o debate sobre os excessos cometidos pelos veteranos. Atualmente, muitas instituições proíbem os eventos, mas as festas continuam ocorrendo e fogem do controle das universidades.
Em março de 2013, um trote promovido por alunos da faculdade de Direito da UFMG se tornou caso de polícia. À época, alguns estudantes divulgaram fotos nas redes sociais em que, aparentemente, faziam apologia ao racismo. Em uma das imagens, uma aluna estava com o corpo coberto por tinta preta e com as mãos atadas, carregando uma placa onde se podia ler "caloura Chica da Silva", em referência à icônica escrava brasileira que viveu na cidade mineira de Diamantina. Após um processo disciplinar, a UFMG expulsou um dos quatro alunos veteranos que apareciam nas fotos, e suspendeu os outros três.
Desde então, a federal de Minas Gerais proibiu a realização de trotes e até criou um hotsite com orientações sobre a proibição e as punições que podem ser aplicadas aos alunos que desrespeitarem as normas. Segundo a assessoria da instituição, os cerca de 3,5 mil calouros que ingressaram neste semestre na universidade receberam uma cartilha com orientações sobre o tema.
Outros casos recentes mostram que os trotes violentos continuam ocorrendo.
Causas
Para o psicólogo Gilberto Diniz, os estudantes cometem excessos durante os trotes porque têm a sensação de anonimato, gerada por estarem em grupo. "Neste caso, o indivíduo perde o medo da punição e acredita que as atitudes negativas serão apoiadas pelo coletivo presente nas festas", explica. Ainda de acordo com o especialista, os calouros que sofrem violência durante os trotes podem adquirir um trauma psicológico que pode fazê-los desistir do curso, abandonando a instituição que escolheram para estudar.
Lei
Com intuito de regulamentar as festas e coibir os excessos, foi criado em Belo Horizonte, no ano de 2011, o programa BH Trote Solidário e Cidadão. Por meio de uma lei municipal, o projeto surgiu para incluir nas escolas municipais atividades educativas contra a prática de bullying.
Autor do projeto que deu origem ao programa, o vereador Adriano Ventura (PT) ressalta que o objetivo principal é fazer com que os alunos se sintam intimidados em praticar excessos durante os trotes, que ocorrem também nas escolas: "Criei o projeto em conjunto com os professores, para que eles possam promover a conscientização dos alunos, ajudando a reduzir os excessos cometidos dentro e fora da sala de aula"..