Revista Encontro

Sociedade

Manifestações em março podem representar a queda da presidente Dilma?

Para cientista político, o movimento popular do dia 15 de março e a campanha que será apresentada pelos militares no dia 19 não são ameaças ao governo federal

João Paulo Martins
No próximo dia 15 de março, milhares de pessoas prometem ir às ruas pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Só no Facebook, segundo a empresa Bites, especializada em gestão de repercussão online, um milhão de usuários confirmaram a participação em 37 eventos contra o governo federal. Em apenas um deles, intitulado Impeachment - DilmaVezParaCuba - VoltaÀsRuas, existem 75 mil confirmações de participação no movimento do dia 15. Além da mobilização popular nas redes sociais, o Clube Militar, instituição privada formada por militares da Marinha, do Exército e da Força Aérea, também anunciou a criação de uma campanha pela volta da "moral à sociedade brasileira" – já recebeu o apoio de instituições importantes, como a Associação Brasileira de Imprensa, e de formadores de opinião, como o jurista Ives Gandra.

"Nossa motivação surgiu da constatação de que os valores da sociedade apresentam diversas distorções: corrupção em todos os níveis nacionais; irresponsável busca de atingir interesses pessoais, sobrepujando, em quase todas as escalas, o interesse da coletividade; os fins justificando os meios; os direitos das minorias prevalecendo sobre os da maioria; e a imposição do 'politicamnete correto' em detrimento do livre pensar e falar", diz a nota oficial enviada pelo Clube Militar à imprensa.

Os militares devem lançar a Campanha pela Moralidade Nacional no próximo dia 19 de março, logo após a manifestação popular em prol do impeachment de Dilma. Apesar da coincidência na proximidade das datas, o Clube Militar garante que essa não foi a intenção. "Já estávamos programando a campanha antes de surgir os movimentos sociais contra a presidente. E tampouco escolhemos a data pensando no dia 31 de março ", diz o coronel Ivan Cosme de Oliveira Pinheiro, diretor de comunicação social da instituição militar.

Segundo o coronel, diante de tantas denúncias de corrupção, não é mais possível esperar. "Não é só uma questão política.
Nossos valores estão totalmente corrompidos. Há uma sensação de impunidade no país. O bandido ataca o policial porque não tem medo das autoridades", reclama Ivan Pinheiro. O diretor de comunicação faz questão de explicar que o pedido de intervenção militar no Brasil, que tomou força nas redes sociais, "é uma loucura". "Nós vamos mostrar que a questão transcende a política. Queremos provocar debates e seminários sobre a situação do país", afirma.

Risco de golpe?

Para o cientista político Malco Braga Camargos, professor da PUC Minas, as manifestações populares fazem parte de qualquer democracia no mundo e isso não significa que resultam em impeachment. "Os 'caras-pintadas' de 1992 não foram responsáveis pelo impeachment do presidente Fernando Collor. A pressão popular faz parte de qualquer democracia. É o indicativo de insatisfação da população. Mas é preciso saber como lidar com isso. Não significa a retirada do governo eleito democraticamente. Mostra que temos algo a ser resolvido", explica o especialista.

Com relação à manifestação dos militares, o professor mostra que ela não possui representatividade na população. "Não têm importância.
Pode ser militar, estudante ou empresário que não faz diferença. Uma manifestação só passa a ter importância se aglutinar um número considerável de pessoas", afirma.

Porém, mesmo que a agitação represente apenas a insatisfação dos diferentes grupos sociais, Malco Camargos lembra que sempre existe o risco de termos um golpe militar. "Quando o país está lidando com crise econômica somada a um conflito ético, existe um maior potencial para o rompimento de regras pré-estabelecidas", conclui..