Em entrevista à cadeia de televisão mexicana Televisa, divulgada integralmente pela Rádio Vaticano, Francisco respondeu sobre a possível duração do pontificado, que, tradicionalmente, é encerrado com a morte do papa ou com a renúncia.
Para ele, Bento XVI, que foi o primeiro papa em sete séculos a renunciar ao cargo, em fevereiro de 2013, abriu a porta para os papas eméritos.
À pergunta "gosta de ser papa?", Francisco respondeu sobriamente e sem entusiamo excessivo: "Não me desagrada". Lembrou que sempre detestou viajar e que é uma pessoa caseira. "A única coisa de que gostava era poder sair um dia, sem que ninguém me reconhecesse, e ir comer uma pizza".
"Não me sinto só. Sério que não", disse, em resposta a outra pergunta.
Cansaço
Para o filósofo Flávio Augusto Senra, professor do departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, a renúncia de Bento XVI abriu uma nova etapa para a compreensão do pontificado. "Os demais bispos renunciam com 75 anos. Papa Francisco tem insistido desde o início que ele é o bispo de Roma, que é um dos títulos dados ao sumo pontífice", afirma.
A postura do alemão Joseph Ratzinger serve de parâmetro para que os papas se sintam à vontade para deixar o cargo, ainda mais quando chegam a uma idade mais avançada, e são vencidos pelo cansaço do corpo. "A primeira impressão que tenho da fala do papa Francisco está ligada à postura de Bento XVI. O papado não é uma tarefa para muitos anos. Tendo sido eleito na idade em que ele foi, é natural que um idoso pense na aposentadoria", explica o professor.
Além da questão pessoal, Flávio Senra lembra que o papa administra a Igreja e que as funções administrativas devem ser levadas em conta.
Sobre a dificuldade dos fiéis em aceitar a saída de um papa tão adorado como Francisco, o filósofo conta que assim como aconteceu com Bento XVI, a saudade será superada. "Eu penso que os fiéis, com o passar do tempo, assim como os bispos renunciam, vão se acostumar com a ideia de que, em algum momento, o bispo de Roma peça para encerrar seus trabalhos e abrir espaço para um novo papa. As pessoas boas também se cansam", completa Flávio.
(com Agência Brasil).