Revista Encontro

Esporte

Você já jogou peteca?

Apesar de parecer uma diversão ou brincadeira, essa prática possui inúmeros adeptos no país, e sua transformação em atividade esportiva se deu em Minas Gerais, na década de 1940

Vinícius Andrade
Antes mesmo da chegada dos portugueses ao Brasil, historiadores afirmam que os nativos já praticavam a peteca como forma de recreação.
Nos jogos das Olimpíadas de 1920, realizada na Antuérpia, capital da Bélgica, os nadadores da equipe brasileira levaram o objeto, inicialmente feito com penas de aves domésticas, palha de milho e pequenas pedras, para se aquecerem antes das competições. Registros da época apontam que a novidade despertou o interesse de atletas e treinadores de outras nações, especialmente da Finlândia. Coube a Minas Gerais, na década de 1940, transformar a brincadeira em esporte, por meio de jogos internos nos clubes pioneiros de Belo Horizonte. Hoje, é inconcebível imaginar algum espaço recreativo ou esportivo no estado que não tenha quadras demarcadas para essa modalidade.

Em 1973 surgiram as regras desse esporte e, dois anos depois, nascia a Federação Mineira de Peteca (Fempe). A modalidade expandiu as fronteiras mineiras e foi bem recebida por outros estados brasileiros como Goiás, Paraná, Rio de Janeiro, além do Distrito Federal. Com a divulgação da peteca e o surgimento de outras federações, foi criada, então, a confederação nacional, que, atualmente, fica em São Paulo.

Se você é da geração dos anos 1990 em diante, não vivenciou a época de ouro da peteca em Belo Horizonte. No final da década de 1980, os eventos lotavam os clubes e provocavam grande alvoroço na cidade.
A Copa Itaú foi considerada a competição com a segunda maior participação de atletas no Brasil, perdendo apenas para a corrida de São Silvestre. O apoio da mídia e as parcerias público-privadas viabilizavam torneios extremamente concorridos na capital.

O educador físico Renato Machado, de 50 anos, começou a praticar o esporte aos 21, e desde então não parou. Ex-vice-presidente e atual colaborador da Fempe, ele vem lutando para maior divulgação da peteca em Minas e em todo o Brasil. "É um esporte relativamente novo. Ele só vai ser profissionalizado quando a mídia reconhecer que é um esporte viável. Nossa luta é formar professores de educação física que comecem a trabalhar com a modalidade nas escolas e nos clubes", defende Renato.

- Foto: Heitor Antonio/Encontro Digital

"Petecar"

A simplicidade do jogo é um ponto positivo, porque abre espaço para diferentes faixas etárias e pode ser praticado em qualquer lugar. No entanto, a facilidade pode pesar contra, segundo Renato. "É uma prática cultural falar que a peteca todo mundo sabe jogar. Para você conseguir rebater a peteca dez vezes no ar, é preciso treinar. Parece que o brasileiro trata o popular como algo sem valor. No Brasil, o que é popular é desprezado", lamenta o educador físico.

O atual presidente da Fempe, Eustáquio Queiroz, tem buscado apoio para maior valorização dessa modalidade, mas, vem esbarradondo em algumas dificuldades. "Peteca é um esporte atrativo, mas falta espaço na mídia, patrocínio e premiação. Ela é sempre tratada como lazer.
Normalmente, os empresários não acham que vale a pena. Ela precisa de incentivo, de dinheiro e de visibilidade", destaca o presidente.

Apesar dos obstáculos, as competições não param. Até 2014 existia uma etapa do campeonato mineiro, por ano, e os vencedores disputavam o evento brasileiro, em novembro. A partir de 2015, serão quatro etapas para se conhecer a dupla vencedora do estado. Ela, então, se classifica para a competição nacional, que será disputada em três dias no fim do ano.

Além desses torneios, a Confederação Brasileira de Peteca e a Fempe organizam eventos paralelos. Entre os dias 11 e 31 de maio, o Minas Shopping vai receber uma quadra oficial para a disputa de vários torneios, incluindo a Liga Brasileira de Peteca, representada pelos melhores atletas do país. A programação ainda inclui oficinas para as crianças de escolas públicas. Elas vão aprender a confeccionar uma peteca. É uma boa oportunidade para apreciar o esporte projetado em terras mineiras..