Para tentar entender essa e outras razões que podem dificultar a adesão à terapia antirretroviral, preconizada para o tratamento da Aids, um amplo estudo envolvendo serviços de referência localizados nas cinco macrorregiões do Brasil investigou 260 crianças e adolescentes com HIV e seus cuidadores. A pesquisa contemplou o momento da descoberta do diagnóstico, o histórico do acesso aos serviços de saúde e da adesão ao tratamento, além do contexto social e familiar. A comovente história da criança que ganhou o pseudônimo "Teresa" é um dos casos estudados.
A pesquisa faz parte da tese de doutorado de Maria Letícia Santos Cruz, defendida na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz. O tema da estigmatização, aliás, já é bem conhecido pela pesquisadora: em 2013, ela lançou o livro Estigma e Saúde, pela Editora Fiocruz.
Quatro padrões
Os casos foram classificados em quatro modelos referentes ao processo de estigmatização, cada um refletido em problemas de adesão ao tratamento para HIV.
O terceiro modelo se refere a pacientes que, devido à falta sintomas, descobrem o diagnóstico de forma tardia e precisam se adaptar. Neste padrão, são comuns episódios que revelam a falta de cuidado no período pré-natal. "Pais e familiares precisam de preparo e informações para lidar com a nova realidade e evitar um processo de rejeição que pode acontecer até mesmo dentro de casa. A falta de suporte pode afetar o tratamento: a equipe prescreve o medicamento, mas uma série de motivos não permite que a criança venha a ter um tratamento regular", salienta Maria Letícia. No quarto e último padrão, que se refere a crianças que vivem em abrigos ou orfanatos, a descoberta da doença acontece ainda dentro das instituições, ambientes em que as crianças convivem com outras pessoas com a mesma realidade. Quando atingem a adolescência, costumam enfrentar obstáculos no processo de reintegração social.
(com Agência Fiocruz).