Em comunicado oficial, a Anvisa informa que dará imediata continuidade à análise desse ingrediente ativo, em cumprimento à determinação do Decreto 4.074, de 2002. Este documento determina a reavaliação do registro de agrotóxicos quando surgirem indícios de riscos que desaconselhem o uso de produtos registrados, ou quando o país for alertado por organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio ambiente.
O glifosato foi descoberto pela Monsanto, empresa multinacional de agricultura e biotecnologia, há 40 anos. O herbicida controla plantas daninha de diversas espécies de maneira eficaz. O modo de atuação do produto inativa uma enzima dentro da planta, responsável pela síntese dos aminoácidos, impedindo a produção de proteínas.
O uso da substância no Brasil passou de 44 mil para 132 mil toneladas entre 2002 e 2011, registrando um aumento de quase 200%. A expansão é maior que o crescimento da área plantada, que passou de 54,5 milhões de hectares para 71,1 milhões (31% a mais).
Segundo a Agência Internacional de Pesquisas do Câncer (Iarc, na sigla em inglês), órgão vinculado à OMS, há evidências de que o herbicida pode ser cancerígeno ao homem e estudos suficientes que indicam o potencial cancerígeno em animais. Ainda conforme a Iarc, o glifosato está ligado ao desenvolvimento de linfonoma não-hodgkin, tipo de câncer associado a mais de 20 tumores diferentes.
Segundo o bioquímico Fernando Amaral, professor da PUC Minas, estudos mostram que a ação do glifosato puro não é tão prejudicial à saúde. Porém, ele explica que o produto é acompanhado de outras substâncias químicas, como o polióxidoetileno, para ajudar na penetração do herbicida, o que pode causar danos a animais e seres humanos. "Quando você testa o Roundup à base de glifosato e outras substâncias, ele apresenta efeito tóxico até três vezes maior. Basta recorrer a artigos científicos para constatar os riscos do produto", alerta o especialista.
Controvérsia
O diretor de regulamentação da Monsanto, Geraldo Berger, afirma que o glifosato possui baixa toxicidade e não contém um reagente que cause danos aos mamíferos. Segundo ele, o herbicida atua especificamente em plantas. A associação do produto com o câncer deixou o representante da Monsanto surpreso. "A Iarc utilizou números restritos de estudo, não tem nenhuma evidência causal entre glifosato e câncer. O herbicida é seguro para ser usado na agricultura. É químico, mas é pouco tóxico", afirma o representante da Monsanto.
Ainda segundo Geraldo, o glifosato já foi reavaliado nos Estados Unidos, na União Europeia, no Canadá e no Japão, e não há indícios de toxicidade do produto.
Conforme especialistas e opositores ao uso de agrotóxicos, a grande barreira para o controle desses protudos é a pressão econômica da indústria química. Esse mercado movimentou R$ 13 bilhões no Brasil em 2011, de acordo com estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva..