Descoberto pela pesquisadora Daniela Bueno, do Instituto de Ensino e Pesquisa do hospital Sírio-Libanês, o uso de células-tronco associado a biomateriais tem apresentado ótimos resultados em crianças com malformações do céu da boca e do lábio. A técnica, que dispensa a retirada de uma parte do osso da bacia – que é o procedimento mais utilizados nos hospitais –, reduz dores com o pós-operatório e estimula a formação óssea em até seis meses, como explica a cientista.
"Na maioria das vezes, precisamos retirar uma grande quantidade de material ósseo para fazer o enxerto e nem sempre a criança tem disponibilidade para fornecer esse material. Com a nova técnica, conseguimos realizar o procedimento ainda aos 8 anos de idade, uma vez que os dentes de leite costumam cair entre os 6 e 12 anos", aponta Daniela.
De acordo com a pesquisadora, o procedimento consiste basicamente no enriquecimento do biomaterial utilizado para formação óssea, com as células-tronco extraídas do próprio dente de leite da criança. Hoje, são necessárias pelo menos três cirurgias para que a fissura labiopalatina (que gera o lábio leporino) seja fechada, impedindo o encontro do canal respiratório com a boca.
"Enxertamos biomaterial com e sem células-troncos em voluntários, que concordaram em participar do projeto. Dessa forma, conseguimos constatar que as crianças que receberam o biomaterial enriquecido tiveram a formação do osso do palato completo em seis meses", diz o cirurgião plástico Diógenes Laercio Rocha, do hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Ainda de acordo com o médico, a escolha pelas células-tronco extraídas do dente de leite se dá pelo fato de terem enorme capacidade de replicação, dando origem a uma grande quantidade de células idênticas. Além disso, elas são capazes de formar diversos tecidos humanos, como músculo, cartilagem, entre outros tecidos. O que não acontece com o material proveniente do cordão umbilical, que pode apenas ser utilizado em tratamentos de doenças sanguíneas..