Revista Encontro

História

Cineasta quer mostrar a verdadeira história de Chica da Silva

O corpo da escrava que viveu em Minas Gerais no século XVIII foi exumado para ajudar no processo de produção de um documentário, que deve ser lançado em 2017

Marcelo Fraga
A verdadeira história de vida de Chica da Silva (escrito assim mesmo, com 'CH') deve ser conhecida pelos brasileiros em breve.
É o que promete a cineasta paulista Rosi Young, que está produzindo o documentário A Rainha das Américas, sobre a escrava mais famosa da história do Brasil. "O que já foi retratado em livros e filmes, é sobre a Xica da Silva, com X. O que não reflete a verdadeira história da escrava chamada Francisca da Silva de Oliveira, que viveu em Diamantina", afirma a cineasta.

Rosi Young contratou o casal americano de cientistas forenses Anthony e Catyana Falsetti para exumar e estudar os restos mortais de Chica da Silva – que repousam no cemitério da Igreja de São Francisco de Assis, localizado na cidade histórica mineira de Diamantina, região norte do estado. O processo de exumação foi realizado no fim de 2015 e os resultados devem ser conhecidos ainda em 2016.

A cineasta explica que a análise dos restos mortais trará dados importantes sobre a lendária escrava, como altura, peso e até um mapeamento genético que poderá indicar os antepassados africanos dela. "Já temos um desenho do rosto de Chica, baseado em seu crânio, e ela é linda!", adianta Rosi Young.

Em maio de 2016, juntamente com a equipe de filmagem, ela fará uma viagem a Portugal para mais uma parte do processo de produção do documentário. A intenção é exumar o corpo de João Fernandes de Oliveira, que manteve um relacionamento amoroso de 16 anos com Chica da Silva. Ele deixou uma rica herança para ela: os 13 filhos e uma grande fortuna com a qual a escrava comprou a própria liberdade.
Rosi Young quer enterrar os restos mortais do português junto à sua amada, em Diamantina.

O roteiro do documentário está sendo construído pela atriz Zezé Motta, que interpretou a famosa escrava no filme Xica da Silva, de 1976. Quem também fez o papel da célebre mineira é Taís Araújo, na polêmica novela Xica da Silva, exibida pela extinta Rede Manchete em 1996. "Vamos, enfim, conhecer a vida real dessa mulher, que sobreviveu à brutalidade da escravidão e ao preconceito racial para viver um grande amor, que a tornou eternamente conhecida como a escrava que era a rainha das Américas no século XVIII", diz a cineasta paulista Rosi Young.
Imagem do museu Chica da Silva, em Diamantina, que também foi a residência da famosa escrava - Foto: Luara Veloso/Blogmonvoyage.wordpress.com/Reprodução

O mito

A vida da escrava Chica da Silva foi retratada em diversos livros e filmes. A publicação Memórias do Distrito de Diamantina, escrita no século XIX por Joaquim Felício dos Santos, é apontada como o primeiro relato da história da escrava mineira, e também seria responsável pelas interpretações equivocadas acerca de sua vida.

A partir dos relatos de Joaquim Felício, Chica da Silva passou a ser retratada como uma mulher promíscua e perversa. Segundo a cineasta Rosi Young, até mesmo livros acadêmicos possuem poucas informações sobre a escrava. Por isso o documentário A Rainha das Américas quer desmistificar Chica da Silva. "A intenção não é recontar a história dela, mas mostrar que sua vida é muito mais bela e rica do que a ficção nos mostrou até hoje", explica Rosi Young.

Homenagem

A cineasta paulista pretende, ainda, encerrar seu projeto com "chave de ouro". A ideia é erguer uma escultura em homenagem à memória de Chica da Silva na cidade onde ela viveu. O primeiro passo já foi dado: a autorização para a construção já foi concedida à equipe de Rosi Young, pelo prefeito da cidade mineira, Paulo Célio (PSDB).
A atriz Taís Araújo (dir.) também se tornou um rosto de Chica da Silva, ao interpretá-la na novela que foi exibida pela extinta Manchete em 1996 - Foto: YouTube/Rede Manchete/Reprodução.