Publicado na revista científica Plos Neglected Tropical Diseases, o estudo foi realizado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com as unidades do Instituto Pasteur na França, Guiana Francesa, Guadalupe e Nova Caledônia, além do Centro de Controle de Mosquitos do Conselho Geral da Martinica.
Os testes foram realizados com mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus capturados no Rio de Janeiro e na Flórida. Já na Guiana Francesa, Martinica e Guadalupe, onde não há registro da presença da espécie A. albopictus, apenas o A. aegypti foi estudado. Os resultados apontam que mosquitos A. aegypti e A. albopictus do Brasil e dos Estados Unidos, assim como insetos A.
"A competência vetorial é determinada geneticamente, por isso podem existir diferenças entre as populações de mosquitos. Constatamos que o A. aegypti e o A. albopictus, nas Américas, podem, sim, ser infectados pelo zika e transmitir a doença. Porém, esse potencial de transmissão é reduzido e heterogêneo", afirma o entomologista Ricardo Lourenço, chefe do laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários da Fiocruz, e um dos autores do artigo.
O resultado sugere que outros fatores podem ter contribuído para a rapidez de disseminação do zika, compensando a baixa taxa de transmissão pelos mosquitos. Segundo o artigo, a ausência de imunidade da população e a grande quantidade de vetores presente no ambiente são elementos que poderiam favorecer a propagação da doença. As descobertas não alteram as medidas de prevenção necessárias para reduzir a proliferação dos insetos, já que as duas espécies são combatidas com as mesmas medidas de eliminação de criadouros.
Chikungunya e febre amarela
Segundo Ricardo Lourenço, na comparação com outros vírus transmitidos pelos mesmos mosquitos, o zika não apresenta características que expliquem uma dispersão mais acelerada. Em 2014, um estudo liderado pelos mesmos pesquisadores apontou que mais de 80% dos A. aegypti e acima de 95% dos A. albopictus das Américas têm potencial para transmitir o vírus chikungunya apenas sete dias após ingerir sangue infectado.
"Comparativamente, observamos que a competência vetorial dos mosquitos para transmitir o vírus zika é menor do que para chikungunya e dengue. Por outro lado, a competência vetorial para a transmissão do vírus zika por estes mosquitos é semelhante à observada em um estudo que realizamos em 2002 sobre a transmissão do vírus da febre amarela", afirma o especialista. O cientista acrescenta que, dependendo de fatores como a quantidade de mosquitos presentes, um nível baixo de competência vetorial pode ser suficiente para o estabelecimento do ciclo de transmissão da doença, mas a velocidade com que isso aconteceu com o vírus zika surpreende.
"Isso permanece uma incógnita.
(com Agência Fiocruz).