Revista Encontro

Saúde

É possível 'voltar' dos mortos? Conheça o Efeito Lázaro

Apesar do nome, a 'ressuscitação' não ocorre de forma espontânea ou milagrosa

Vinícius Andrade
Para muitos a morte é o fim da linha.
Para outros, o atestado de óbito não é suficiente para entregar os pontos. Você já deve ter ouvido falar na história de Lázaro, descrita pela Bíblia, na qual um homem natural de Betânia, em Israel, ressuscita depois de passar quatro dias no sepulcro, em um dos milagres mais famosos atribuídos a Jesus Cristo.

O relato serviu de inspiração para nomear um fenômeno conhecido pela Medicina como Efeito Lázaro – quando uma equipe médica suspende os trabalhos de reanimação de um paciente com parada cardiorrespiratória, mas, para surpresa de todos, ele volta a apresentar sinais de vida, mesmo tendo sido declarado morto.

Os primeiros registros desse fenômeno começaram a aparecer na literatura médica no início dos anos 1980, mas, só na década de 1990, ele foi batizado como Efeito Lázaro pelo anestesiologista americano Jack Bray Jr.

Morto-vivo

No início dos anos 2000, a equipe do geriatra britânico Vidyamurthy Adiyaman estava realizando uma reanimação cardiorrespiratória (RCR) em um paciente idoso, e, após 15 minutos sem resposta, os médicos decidiram suspender o procedimento e comunicar o falecimento do homem.

Porém, passados cerca de 20 minutos após o atestado de óbito, o idoso voltou a respirar e ficou em coma durante dois dias, finalmente morrendo no terceiro. O caso foi parar na justiça. A família do paciente acusou a equipe médica de ter desistido cedo demais. Intrigado com a situação, Adiyaman decidiu investigar se existiam casos semelhantes e acabou descobrindo outras 38 situações relacionadas ao Efeito Lázaro. Ele conseguiu provar que não teve culpa pela morte do idoso e publicou um artigo científico sobre o assunto.

O geriatra constatou em suas pesquisas que os pacientes voltaram à vida, em média, sete minutos depois de a RCR ser suspensa. O médico também concluiu que a grande maioria dos doentes acabou falecendo cerca de minutos ou poucas horas depois de ressuscitar.

Nomenclatura "errônea"

Embora o Efeito Lázaro seja pouco comentado pela comunidade médica, os pesquisadores estabeleceram um elemento comum em todos os casos: a prática da RCR.
Este detalhe coloca em xeque o nome escolhido para o fenômeno, já que Lázaro não passou por um procedimento de reanimação cardiorrespiratória. Ele voltou a viver por um milagre, conforme a Bíblia, e não há explicação científica para o fato.

Segundo a enfermeira Érika Azevedo Mássimo, coordenadora do programa Basic Life Support (Suporte Básico de Vica, em tradução livre), que ensina profissionais da saúde e leigos a fazerem procedimentos de reanimação pulmonar, o chamado Efeito Lázaro é um resultado tardio da ressuscitação. "Não se trata de uma ressurreição espontânea ou mágica", avalia a especialista.

A enfermeira explica que durante a ressuscitação os pulmões são rapidamente inflados, dificultando o bombeamento do sangue pelo coração, já que os órgãos ocupam o mesmo espaço físico. No caso do Efeito Lázaro, quando os procedimentos de reanimação cardiorrespiratória são suspensos, a pressão no interior dos pulmões volta a diminuir, permitindo com que o fluxo sanguíneo chegue ao coração novamente e a pessoa tenha uma nova chance..