Revista Encontro

Meio-ambiente

Fungos contra baratas: uma alternativa ao uso de inseticidas químicos

Pesquisa descobre espécie de fungo capaz de matar os ovos das tão 'temidas' baratas

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As baratas têm tamanha capacidade de adaptação a condições adversas que costuma-se dizer que elas seriam as únicas sobreviventes de uma hecatombe nuclear.
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Jaboticabal, descobriram, no entanto, um "algoz" à altura: o fungo Aspergillus westerdijkiae. Ele tem potencial para infectar o inseto ainda em sua fase embrionária, nas ootecas, as estruturas que abrigam os ovos.

De acordo com Marcelo da Costa Ferreira, responsável pela pesquisa, trata-se de uma dupla inovação: além de poder se transformar em uma alternativa aos riscos provocados por inseticidas químicos ao meio ambiente, o fungo ataca o inseto em uma fase crítica do seu desenvolvimento, quebrando o ciclo de multiplicação.

"Algumas espécies de baratas são consideradas pragas urbanas, porque são capazes de transportar patógenos para as casas das pessoas e podem depreciar alimentos e roupas. A aplicação de produtos químicos ainda é a principal via de controle, mas com risco de intoxicação humana e ao ambiente, ampliado pela necessidade de aplicação contínua. Por isso, é preciso que sejam desenvolvidas estratégias de controle com menor risco ambiental, e uma alternativa que tem se mostrado bastante promissora é o uso de fungos entomopatogênicos", diz o pesquisador.

Fungos entomopatogênicos são aqueles que parasitam insetos, incapacitando-os e até mesmo ocasionando sua morte. O potencial do Aspergillus westerdijkiae foi observado pela primeira vez por Antonio Carlos Monteiro, do departamento de Produção Vegetal da Unesp, que, por acaso, encontrou uma barata morta coberta pelo fungo. Isolado e cultivado em laboratório, o fungo passou a ser estudado em comparação ao controle químico convencional.

Os pesquisadores investigaram o fungo e descobriram que ele não é capaz de matar indivíduos adultos da espécie Periplaneta americana (a mais comum nas cidades) com facilidade, mas sim os ovos de suas ootecas. Essas estruturas ficam conectadas por cerca de 24 horas ao abdome da barata fêmea, sendo posteriormente depositadas em locais abrigados para maior segurança no momento de eclosão.

A ooteca possui uma cobertura composta por proteínas que protege os ovos contra dessecação e penetração de produtos químicos.
Os pesquisadores, no entanto, observaram a adesão, germinação, penetração e extrusão do fungo sobre essa estrutura. Isso porque o Aspergillus westerdijkiae produz enzimas capazes de digerir o tecido, penetrando a ooteca, colonizando sua parte interna e infectando os insetos.

"O fungo tem potencial para o desenvolvimento de formulações para o controle biológico da praga, substituindo ou sendo agregado aos produtos sintéticos, já que é capaz de infectar a fase de ovo da barata, o que é um diferencial se comparado aos produtos químico-sintéticos. Dessa forma, o produto biológico é capaz de eliminar as baratas antes que elas se desenvolvam e aumentem sua infestação no ambiente", explica Marcelo Ferreira.

(com Agência Fapesp).