É por isso que a médica está à frente da Campanha de Prevenção do Câncer de Intestino no hospital Madre Teresa.
ENCONTRO – Primeiramente, vamos esclarecer: o que é o câncer colorretal?
HILMA NOGUEIRA DA GAMA – É o tumor no cólon ou no reto. Existe o intestino delgado e o intestino grosso, mas nosso foco é o grosso, pois é muito raro haver câncer no delgado. O intestino grosso se divide entre a parte de baixo, perto do ânus, chamada reto, e a de cima, chamada cólon.
Por que a senhora diz que a doença está mudando de perfil em relação ao público afetado?
O câncer colorretal já foi uma doença de pessoas idosas, mas hoje não é mais. Estamos vendo o número de pacientes mais jovens aumentar 2% ao ano. Isso é uma estatística americana. Atualmente, pessoas com menos de 50 anos já representam 30% das cirurgias. É muito! Era raro ter pessoas jovens com tumor no intestino, mas hoje já se operam pessoas abaixo de 50 anos com certa frequência. No meu consultório isso se confirma. No ano passado eu operei mais pessoas abaixo dos 50 do que pacientes idosos.
E por que está acontecendo essa mudança no perfil dos pacientes?
Pelo nosso estilo de vida.
Alimentação seria o mais importante fator para acometimento desse câncer?
Sim, o mais importante. E para preveni-lo, a pessoa deve ingerir muita fibra, comer carne vermelha com moderação e diminuir as gorduras. Além disso, é preciso ingerir muita salada, quatro porções de fruta por dia. E muito líquido.
Quais são os principais vilões da alimentação, que deveriam ser cortados da dieta?
Corantes, conservantes, embutidos... Mas nem acho que seja necessário cortar, e sim controlar. Não é preciso ficar sem comer o que gosta, a pessoa também tem que viver a vida. Mas o que recomendo é moderação, ingerir fibras, fazer exercícios físicos e realizar os exames de prevenção. Por isso eles são tão importantes. Porque o câncer de intestino é previsível, então é preciso insistir nisso. Se não podemos viver em outro mundo, comer outra comida, podemos, sim, prevenir.
Quais são os sintomas do câncer de intestino?
Sangue nas fezes – e não precisa ser muito –; gosma, parecida com clara de ovo; e água cor de rosa no vaso.
E qual é o procedimento que a pessoa deve seguir, caso perceba algum desses sintomas?
Primeiramente, ela precisa saber qual médico procurar: o coloproctologista. Tem gente que nem conhece a especialidade. E aí esse médico irá examiná-la. Ele faz o exame de toque e, com um aparelho, consegue examinar parte do reto de uma vez. Só com isso, às vezes, já é possível identificar se existe alguma suspeita. Então é importante ressaltar que essa é a primeira etapa, porque tem gente que faz a colonoscopia, guarda o resultado na gaveta e acha que fez a prevenção. Não fez. A prevenção começa com o exame do ânus e do reto, no consultório médico. Uma vez feito esse exame, alguns terão que fazer a colonoscopia em seguida .
As pessoas têm o hábito de procurar o médico quando percebem algum desses sintomas?
Não. Essa é a importância de divulgar o tema e essa questão do paciente jovem, que está passando batida. Tenho pacientes de 30 e poucos anos que demoraram um ano para chegar até meu consultório. Vão ao ginecologista, ouvem que "não é nada". Passam pelo clínico, que diz que "a diarreia deve ser intolerância à lactose". Se é anemia, atribuem à menstruação excessiva. Até que acontece algo mais grave – uma delas desmaiou na aula de dança, por exemplo – e, depois de extensos exames no hospital, descobrem o tumor no intestino.
E a prevenção, no caso do intestino, consegue evitar o câncer...
Sim, é um câncer 100% previsível. A colonoscopia é muito detalhista e já vai reconhecendo e retirando os pólipos, quando estes são encontrados. Em seguida, são enviados para análise, onde se saberá se eles são adenomatoides ou hiperplásicos . E a partir daí se estabelece o controle. Diferentemente de outros cânceres, como o de mama ou de próstata, que já são encontrados como câncer em si (exigindo que a pessoa retire o tumor, faça tratamento), no caso do intestino ele dá essa chance à pessoa, porque leva cinco anos para crescer o pólipo e se transformar em tumor. Dá tempo de fazer o exame, retirar o pólipo e resolver seu caso. Se não fosse a ausência do exame na rede pública e o pavor da colonoscopia que as pessoas têm, não haveria mais câncer de intestino. Sendo que ele é o terceiro mais comum no mundo. E não é apenas no Brasil: no mundo todo existe essa falta de atenção com a prevenção.
Fale sobre a campanha do mês de maio no hospital Madre Teresa.
Serão atendimentos todas as noites, das 18h às 21h, com consultas agendadas pelo telefone. Não são do SUS, mas lá são aceitos mais de 60 convênios. É uma equipe de mais ou menos 15 pessoas, sendo seis coloproctologistas. E vamos oferecer as três etapas do exame de prevenção em uma única noite: a pessoa vai passar pelo coloproctologista, fará o exame do reto, e, caso seja necessário, passará para a consulta com o anestesista e com o colonoscopista. A única coisa que não é feita no dia é a colonoscopia em si, mas o paciente já sai de lá com ela agendada e com o preparo – esse processo, fora da campanha, demoraria cerca de três meses. Fizemos essa campanha em 2013 e foi um sucesso, foram mais de 800 pessoas atendidas. .