Revista Encontro

Bem-estar

Que tal ser 'atacado' pela própria mão?

Até parece mentira, mas existe uma síndrome que deixa os membros do corpo com movimentos involuntários

Vinícius Andrade
Já pensou em ser atacado pela própria mão? Pode parecer surreal, mas, algumas pessoas estão sujeitas a esse tipo de situação.
Trata-se da Síndrome da Mão Alheia, um problema neurológico capaz de fazer com que os membros do paciente tomem "vida própria" e passem a fazer movimentos involuntários e até complexos, como, por exemplo, desabotoar uma camisa e socar o próprio rosto.

O caso mais conhecido é o da americana Karen Byrne. Curiosamente, o problema dela começou após uma cirurgia para controlar a epilepsia, distúrbio que a afetava desde os 10 anos de idade. Durante o procedimento, o médico cortou seu corpo caloso, um feixe de fibras nervosas que mantêm os dois hemisférios do cérebro em permanente contato.

A cirurgia curou a epilepsia de Byrne, mas desencadeou um problema que deixou os médicos perplexos. A americana conta que sua mão estava fora de controle, chegando até mesmo a estapeá-la.

Um cérebro normal é formado por dois hemisférios, que se comunicam entre si por meio do corpo caloso. Byrne sofria com uma "luta de poder" dentro da sua cabeça. Normalmente, o hemisfério esquerdo é o dominante e tem a palavra final nas ações que desempenhamos. A descoberta deste domínio hemisférico aconteceu nos anos 1940, quando os cirurgiões começaram a tratar a epilepsia com o corte do corpo caloso.
Porém, os pacientes começaram a revelar, com o tempo, que cada hemisfério do cérebro tem sua própria vontade.

No caso de Byrne, o lado direito do cérebro se recusava a ser dominado pelo lado esquerdo. Segundo a médica Rosamaria Guimarães, presidente da Sociedade Mineira de Neurologia, o caso da americana é raro, já que a maioria das vítimas da Síndrome da Mão Alheia surge devido a um AVC (acidente vascular cerebral), traumatismo, ou por ocorrência de tumores.

A especialista explica que existem tentativas de reabilitação, mas os resultados não são eficazes. "Normalmente, a Síndrome da Mão Alheia é decorrente de uma lesão estrutural, e a Medicina não consegue refazer a área que foi lesada. Exceto se o próprio cérebro fizer essa reorganização. Mas, isso ocorre independente da ação do médico", conta a neurologista..