A ausência de dados epidemiológicos sobre a doença e a possibilidade de seus sintomas serem confundidos com diversas outras moléstias acenderam o alerta para os pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Conduzido por Elba Lemos, chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses, e Maria Angélica Mares-Guia, especialista em Medicina Tropical, um estudo publicado no periódico científico American Journal of Tropical Medicine and Hygiene observou a presença de C. burnetii em nove pacientes durante um surto da doença em Itaboraí, município do Rio de Janeiro, que possui atividades econômicas relacionadas à agricultura e à pecuária. Foi lá que o Laboratório detectou, em 2008, o primeiro caso confirmado por meio de analise molecular no país. Além do Rio de Janeiro, casos de febre Q já foram confirmados em Minas Gerais e São Paulo.
Sinal de alerta
Em parceria com um hospital local, foram analisadas as amostras de todos os pacientes que deram entrada na unidade de saúde com suspeita de dengue, entre março de 2013 e outubro de 2014. No hospital, foram realizados exames para identificar dengue e os que analisam a febre Q foram desenvolvidos na Fiocruz, utilizando as mesmas amostras.
A outra pesquisadora, Elba Lemos, alerta para a necessidade do diagnóstico diferencial: "Estamos em uma área endêmica para dengue e agora também temos a circulação dos vírus zika, chikungunya e influenza. Já que sabemos da existência de um foco de febre Q na região de Itaboraí, os profissionais de saúde da localidade precisam questionar a possibilidade de haver pessoas afetadas por essa zoonose e que possam ter diagnósticos confundidos". Ela defende que, nessa situação, o critério clínico-epidemiológico seja complementado por testes laboratoriais.
Segundo Elba, quando houver suspeita de febre Q, o paciente precisa ser imediatamente medicado para uma melhora significativa. "Simples e de baixo custo, o tratamento adequado consiste na utilização de um antibiótico específico por aproximadamente três semanas. No caso crônico da doença, esse período pode se estender por meses", explica. Com o tratamento correto realizado nos primeiros três dias da doença, as manifestações clínicas, como a febre, podem cessar em 72 horas. Porém, caso não receba a medicação apropriada, o paciente pode ter a doença agravada.
Fácil transmissão
De acordo com a pesquisadora da Fiocruz, a forma humana de infecção mais comum é por inalação de partículas da C. burnetii presentes no ar, uma vez que é uma bactéria extremamente resistente ao calor, à seca e a vários produtos químicos, podendo sobreviver por longos períodos no ambiente. A especialista destaca ainda que, embora carrapatos não transmitam a bactéria para humanos por meio da picada, eles são significativos na manutenção da bactéria no ambiente, pois são capazes de transmiti-la entre os animais. "A febre Q envolve as saúdes humana, animal e ambiental.
(com Agência Fiocruz).