Revista Encontro

Saúde

Cetamina está sendo usada para tratar depressão

Saiba mais sobre a substância que faz efeito em algumas horas, ao contrário dos antidepressivos tradicionais

Da redação com assessorias
A depressão atinge 350 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Embora existam diversos tipos de tratamento, muitas pessoas não reagem bem aos antidepressivos tradicionalmente recomendados. Estudos recentes, porém, devem começar a mudar esse quadro, mostrando que a cetamina (também chamada ketamina), substância usada há cerca de 60 anos na Medicina como anestésico, possui efeito rápido e eficiente sobre a doença.

De acordo com o psiquiatra Ivan Barenboim, diferentemente dos antidepressivos convencionais, que em geral começam a fazer efeito em semanas ou meses após o uso, a cetamina pode dar resultado em alguns dias ou mesmo horas. Além disso, ela não gera efeitos colaterais em longo prazo. "A cetamina pode ser a única saída para pessoas que não respondem aos remédios tradicionais ou para casos urgentes, como os que envolvem risco de suicídio ou uma provável internação", explica o médico.

Para tratar a depressão, a cetamina é ministrada em dosagens baixas (0,5 mg por quilo) por infusões endovenosas que duram cerca de 40 minutos. Apenas durante a aplicação alguns efeitos colaterais podem ser sentidos, como náuseas, sonolência e, em certos casos, sintomas dissociativos (alterações na percepção). "Se depois de duas ou três sessões o paciente não responder, isso significa que a substância não foi efetiva para o seu caso. Se funcionar, é recomendado continuar o tratamento", esclarece Ivan Barenboim.

Segundo o especialista, a contraindicação é apenas para pessoas com histórico de problemas cardíacos graves, pois a cetamina pode acarretar aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca.
Em caso de suspeita, pede-se ao paciente um teste ergométrico antes da aplicação da substância.

Por enquanto, o tratamento da depressão com a cetamina não é aprovado pelo Federal Drug Administration, órgão de fiscalização de medicamentos nos Estados Unidos, o que, conforme o psiquiatra, não significa que não possa ser realizado. "Neste caso, o uso é 'off label', ou seja, para um fim não previsto em bula, o que é muito comum na Medicina. A cetamina já é usada dessa forma como analgésico, por exemplo", explica Ivan.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não reconhece o uso da cetamina para outros fins, que não sejam anestésicos. Além disso, a Anvisa também é contrária à prática do "off label". Segundo parecer emitido pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo em 2013, o uso da substância de forma "off label" é de responsabilidade do profissional da área e, em caso de efeitos colaterais não desejados, pode representar erro médico..