Com o intuito de mudar esse cenário, o grupo Dignidade, representado pelo deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), lançou a campanha Igualdade na Veia. A iniciativa já reúne mais de 19 mil assinaturas em petição online contra a legislação vigente no Brasil. A causa é apoiada pela Defensoria Pública da União. Em audiência sobre o tema, realizada em maio deste ano, o defensor público federal Erik Boson classificou as normas atuais como "discriminatórias" e alegou que elas "ajudam a estigmatizar a população gay, atribuindo a esses o estigma de 'grupo de risco'".
Segundo o Ministério da Saúde, as regras brasileiras estão apoiadas nos fatores de risco. "É importante esclarecer que o critério de inaptidão temporária para doação de sangue para este grupo está fundamentado em dados epidemiológicos presentes na literatura médica e científica nacional e internacional, e não em orientação sexual", destaca o ministério por meio de nota.
O governo justifica que dados do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde apontam que a epidemia de HIV está concentrada em populações de maior vulnerabilidade, tais como "homens que fazem sexo com outros homens, usuários de drogas e profissionais do sexo".
Explica, mas não justifica
Para o psicólogo Samuel Silva, que estuda há mais de 10 anos a temática LGBT e o comportamento homofóbico, as alegações do Ministério da Saúde não convencem.
Por sua vez, procurada pela reportagem, a Fundação Hemominas apenas reforçou as justificativas apresentadas pelo Ministério da Saúde. "Os candidatos à doação que mantêm relação sexual com pessoas do mesmo sexo possuem risco acrescido para transmissão de doenças por meio da transfusão sanguínea, e por este motivo, devem ser impedidos de doarem sangue por 12 meses", diz Fernando Valadares Basques, diretor técnico-científico do Hemominas.
Sangue perdido
A agência de publicidade Africa, em parceria com a ONG internacional All Out, lançou uma campanha em abril deste ano para questionar a recomendação mundial de qual público está apto a doar sangue – A Organização Mundial de Saúde corrobora com as regras em vigor no Brasil. A iniciativa quantificou em uma "fila virtual" o reflexo dessas regras. Por meio de uma enquete online, foi possível reunir 215.301 homens homossexuais que gostariam de doar sangue e não podem.
Segundo a campanha, os possíveis doadores têm, em sua maioria, entre 25 e 50 anos, e poderiam beneficiar 863.604 pessoas com um estoque simbólico de mais de 97 mil litros de sangue..