O destino é o mesmo: a casa de Claude Monet (1840-1926), o mestre impressionista que fez de sua propriedade em Giverny um ateliê a céu aberto, graças aos enormes e encantadores jardins que atraem, anualmente, 500 mil visitantes. E frise-se: o "anualmente", nesse caso, vale só de abril a outubro. Nos outros meses – quando o frio invernal é mais rigoroso e as flores quase que desaparecem –, a casa e principalmente seus jardins ficam fechados à visitação. Mas, quando estão abertos, o cenário é de deslumbramento, tanto para os adultos quanto para as crianças: sem distinção de idade, todos ficam fascinados com a quantidade absurda de flores, plantas ornamentais, árvores frutíferas que formam uma espécie de "Éden" em alguns momentos. A sensação é de se estar caminhando por uma obra de arte.
Aquela sensação – ou vontade – que alguém já pode ter tido alguma vez na vida de entrar em uma cena de quadro, participar dela, se materializa em Giverny. O caleidoscópio que a flora do lugar forma é exatamente igual ao que Monet via de sua janela na confortável e nem tão grande assim casa normanda circundada pelos mais de 8 mil m² de jardins. E que serviram de inspiração para ele por exatos 43 anos – desde que se mudou para o lugar, em 1883, até sua morte nos braços de seu grande amigo e político Georges Clemenceau, em 1926.
Monet se mudou para Giverny por achar que o bucólico vilarejo – à época com não mais que 300 habitantes – era o lugar ideal para viver com seus oito filhos pequenos e por achar que aquela paisagem e aquela luz eram as ideais para seu trabalho. Primeiro, ele alugou a casa e o terreno. Em 1890, com o sucesso das vendas de seu quadros, arrematou a propriedade. E se empolgou. Com a ajuda de 10 jardineiros e três motoristas, ele criou um paraíso natural, que virou seu ateliê permanente. Ele mal saía de casa para procurar outras fontes de inspiração, criando ali uma forma precursora de home office, se é que se pode dizer assim.
O artista plantou inúmeras espécies de flores, plantas ornamentais e árvores frutíferas, criou espontaneamente dois jardins – Jardim d'Água e Jardim da Normandia – e deixou que a natureza se encarregasse de ditar a beleza e a estética visual do lugar. E, convenhamos, a natureza fez um trabalho e tanto.
Com o tempo, um dos maiores – se não o maior – mestres do impressionismo tornou-se um botânico amador dos mais dedicados. No final de sua vida, o artista havia plantado mais de 1,8 mil espécies de flores e plantas, que conviviam em harmonia singular. Raros bambus japoneses, macieiras, azaleias, cerejeiras, íris, tulipas, rosas, limoeiros, rosas chinesas, dálias, girassóis e hortênsias – e há muito mais – em suas cores variadas e cada qual com floração em data específica e planejada. "Todo o dinheiro que ganhei investi no meu jardim", revelou Monet certa vez.
Mas, a joia do lugar é, sem dúvida, o Jardim d'Água. É ali, com um lago irrigado por um riacho, onde os turistas mais se deslumbram e não param de tirar fotos de ângulos até improváveis, fazer selfies e engarrafar a ponte em estilo japonês que Monet mandou construir.
Quando Michel Monet, um dos filhos do mestre, morreu, em 1966, legou a propriedade à Academia de Belas Artes da França. Mas, só no final dos anos 1970 e começo dos 1980 é que foi criada a Fundação Claude Monet, que até hoje administra o local e cuida para que tanto a casa normanda quanto os jardins sejam mais do que um museu aberto à visitação: a fundação se preocupa que o lugar seja, ainda hoje, um motivo de inspiração.
(com Agência USP).