O niquim vive na zona de transição entre as águas salgada e doce, escondido no fundo lodoso de rios e lagoas costeiras. Na maré baixa, o peixe, que é da cor da areia, sobrevive enterrado, podendo viver fora d'água por até 18 horas. Quem caminha pela areia rasa no litoral das regiões norte e nordeste do Brasil, estendendo-se até a costa do Espírito Santo, pode inadvertidamente ser picado por esse peixe.
Em 2008, um grupo de pesquisadores do Laboratório Especial de Toxinologia do Instituto Butantan, em São Paulo, desenvolveu um soro efetivo contra a picada do niquim. Agora, a mesma equipe, liderada pelas imunofarmacologistas Mônica Lopes-Ferreira e Carla Lima, descobriu que as fêmeas do niquim, embora menores, têm toxina mais poderosa que a dos machos. Além disso, o grupo de pesquisadores observou que o veneno possui um peptídeo com ação contra a esclerose múltipla – doença inflamatória autoimune do sistema neurológico.
"Identificamos um peptídio com atividade anti-inflamatória comprovada nos casos de esclerose múltipla. Em camundongos, o peptídeo bloqueou o trânsito e a infiltração de linfócitos patogênicos e macrófagos para o sistema nervoso central, o que favorece o aumento de células reguladoras. Isso resulta na atenuação da inflamação, refletindo no adiamento do aparecimento dos sintomas e na melhoria dos sinais clínicos da doença", explica Carla Lima.
O peptídeo, denominado TnP, foi descoberto em 2007, quando Mônica Lopes-Ferreira resolveu pesquisar se o veneno era composto por peptídeos além de proteínas. Simultaneamente, Lima havia padronizado no laboratório testes em murinos (roedores) para avaliação de esclerose múltipla. As duas resolveram testar a eficácia do peptídeo no tratamento da doença.
(com Agência Fapesp).