"A ideia é nos beneficiarmos da recente revolução dos nanossatélites, mais conhecidos como cubesats, para colocar o país no mapa da exploração interplanetária", afirma o engenheiro espacial, Lucas Fonseca, gerente do projeto Garatéa-L e ex-aluno da EESC. Ele esclarece ainda que a missão brasileira conta com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), da USP, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, do Instituto Mauá de Tecnologia e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
O lançamento do Garatéa-L será realizado numa parceria com duas empresas britânicas e com as agências espaciais europeia (ESA) e do Reino Unido (UK Space Agency) O veículo lançador contratado é o indiano PSLV-C11 – mesmo foguete que enviou com sucesso a missão Chandrayaan-1 para a Lua, em 2008.
"É uma oportunidade única de trabalhar com os europeus num projeto que pode elevar as ambições do Brasil a outro patamar", comenta Lucas Fonseca, que já tem bastante experiência em missões espaciais. Antes de iniciar o atual projeto, ele trabalhou no desenvolvimento da Rosetta, espaçonave da ESA que realizou o primeiro pouso em um cometa, em 2014.
No futuro lançamento europeu, diversos cubesats – dentre eles o brasileiro – serão levados à órbita lunar por uma nave-mãe, que também fornecerá o serviço de comunicação com a Terra e permitirá a coleta de dados por pelo menos seis meses.
Vida extraterrestre
A Garatéa-L tem um forte componente de astrobiologia – o estudo do surgimento e da evolução da vida no Universo. Em seu interior, viajarão até a órbita da Lua diversas colônias de microrganismos vivos e moléculas de interesse biológico, que serão expostas à radiação cósmica por diversos meses.
O experimento, coordenado por Douglas Galante, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, e Fábio Rodrigues, do Instituto de Química da USP, tem por objetivo investigar os efeitos do ambiente espacial interplanetário sobre diferentes formas de vida. O esforço é um passo adiante com relação a experimentos realizados na estratosfera com balões meteorológicos, que expuseram diversas amostras aos raios ultravioleta solares sem a filtragem da camada de ozônio terrestre.
"A busca por vida fora da Terra necessariamente passa por entender como ela pode lidar, e eventualmente sobreviver, em ambientes de muito estresse, como é o caso da órbita lunar. O conhecimento obtido com a missão sem dúvida ajudará a compor esse difícil quebra-cabeça", diz Douglas Galante.
É a astrobiologia também o que dá nome à missão: Garatéa, na língua tupi-guarani, significa "busca vidas", somada ao L, de lunar.
Um instrumento embarcado também fará a medição dos níveis de radiação em órbita cislunar – resultado que terá importância para planos internacionais futuros de missões tripuladas de longa duração à Lua.
(com Agência USP).