Revista Encontro

Bem-estar

Estudo associa consumo de lichia em jejum a doença em crianças na Índia

A fruta típica do oriente teria uma substância chamada hipoglicina, que inibe a quebra da glicose pelo organismo

Correio Braziliense
Um estudo encontrou a resposta para um mistério da Medicina que durou décadas: uma doença que causa convulsões, coma e até morte em crianças.
O problema está relacionado ao consumo de lichia. A doença matou centenas de crianças durante décadas em Muzaffarpa, na Índia, por causa do hábito de comer a fruta ainda não maduras, encontradas no chão das plantações. A região que concentrou o surto é responsável por 70% da colheita de lichias do país.

A descoberta aponta que a lichia contém altas doses de hipoglicina, uma toxina que inibe a capacidade do corpo de sintetizar a glicose. Depois que coletaram o material genético de 300 crianças afetadas pelo problema, os médicos descobriram algo em comum. Muitas delas estavam com nível baixo de açúcar no sangue e, por isso, tinham o dobro de chance de morrer. "Uma das coisas que ouvimos, várias vezes, das mães era que as crianças não jantavam direito", diz a pesquisadora indiana Srikantiah, em entrevista ao jornal americano The New York Times. A hipoglicina, combinada com os estômagos vazios, era a responsável, então, pelas mortes.

A doença que afetou as crianças na Índia causa encefalopatia, uma inflamação no cérebro.
Os relatos apontam que elas acordavam cedo, com um choro alto e agudo, e depois tinham convulsões. Em cerca de 40% dos casos, a condição misteriosa levou à morte. Na época da colheita das lichias, os surtos da doença começavam no meio de maio e paravam repentinamente em julho, quando começam as chuvas.

As indicações mais concretas da relação entre a lichia e a doença vieram em 2015. Os pesquisadores recomendaram aos habitantes da região de Muzaffarpar que alimentassem bem as crianças antes de dormir e restringissem o consumo da fruta. Em seguida, os casos diminuíram de centenas para menos de 50 por ano.

As investigações começaram em 1995. Inicialmente, os médicos não conseguiram determinar se a doença era causada por uma infecção. Depois, descobriram que as vítimas não tinham febre ou número elevado de glóbulos brancos, as células que protegem o corpo e indicam infecções.

O estudo, feito por cientistas americanos e indianos, foi publicado no jornal médico britânico The Lancet Global Health na segunda-feira, dia 31 de janeiro..