No dia em que foram entrevistados, 30% dos "baladeiros" deixaram a casa noturna com um nível alcoólico que se enquadra no chamado binge drinking (quatro doses para mulheres e cinco para homens, consumidos em duas horas), um padrão considerado de risco e que, segundo estudos, é associado à maior ocorrência de abuso sexual, tentativas de suicídio, sexo desprotegido, gravidez indesejada, infarto, overdose alcoólica, quedas e outros problemas de saúde.
A pesquisa sobre o consumo de álcool por jovens foi coordenada pela professora Zila Sanchez, da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
As entrevistas foram feitas com jovens entre 21 e 25 anos – 60% homens e 40% mulheres –, que aceitaram participar com a garantia de anonimato. Os participantes foram abordados em 31 estabelecimentos da capital paulista, situados em diferentes bairros e voltados a diferentes classes sociais e estilos musicais. "Buscamos compor uma amostra representativa das baladas da cidade. Entramos em contato com os donos ou gerentes e pedimos autorização para a coleta de dados. Bordéis e casas de swing não foram incluídos, pois nosso foco foram os locais em que as pessoas vão para dançar", afirma Zila Sanchez.
De acordo com a professora, a venda de bebidas no sistema open bar – em que se paga um valor fixo e o consumo é liberado – foi o principal fator ambiental associado à intoxicação alcoólica.
O levantamento da Unifesp mostrou ainda que, de maneira geral, o "esquenta" pré-balada é mais comum entre os homens, que chegaram à casa noturna com níveis alcoólicos mais elevados. Na saída, porém, as mulheres apresentaram dosagens equivalentes, o que indica um consumo feminino maior dentro do estabelecimento. "Nós tínhamos, inicialmente, a hipótese de que o objetivo do esquenta era economizar, reduzindo a compra de bebida dentro da balada. Mas, na realidade, aqueles que chegaram ao estabelecimento com níveis elevados de álcool acabaram bebendo mais que os outros. Portanto, são indivíduos que têm um padrão de beber mais e, consequentemente, um gasto maior", afirma Zila Sanchez.
Para a pesquisadora, somente políticas públicas poderiam amenizar o problema. Uma proposta seria combater a venda de álcool no modelo open bar e as demais promoções que tornem a bebida muito barata. "Outra medida interessante seria proibir a venda para pessoas que já apresentam sinais de intoxicação, como fala pastosa e olhos vermelhos. Isso já é feito em diversos países. A ideia não é extinguir o consumo, e sim, garantir que as pessoas deixem os estabelecimentos em condições mais seguras", diz a professora.
(com Agência Fapesp).