Segundo a pesquisadora Cibele Rosana Ribeiro de Castro Lima, autora da pesquisa, a etnia sempre foi um fator importante na determinação de formulações para produtos de beleza. Cada grupo étnico possui características específicas (elasticidade, resistência e brilho). O cabelo afro, por exemplo, é o mais frágil de todos devido à sua conformação ser muito ondulada, ter baixa umidade natural e distribuição irregular da oleosidade sobre a fibra.
Para obter um escopo mais abrangente, Cibele analisou mechas de cabelos virgens de várias regiões do mundo para realizar a pesquisa: o caucasiano, representando pessoas com ancestralidade europeia (de diâmetro menor, levemente ondulado e de coloração castanho escuro); o oriental, de pessoas oriundas do Japão, China e Coreia (liso em toda a sua extensão e o mais resistente dentre todas as etnias por ter um diâmetro maior); e o cabelo afro-étnico, coletado de pessoas da África do Sul e de Gana – se mostrou o mais frágil, com estrutura enovelada e alto grau de irregularidade no diâmetro do fio. Foi o de menor resistência ao estiramento e também quebrava mais facilmente ao ser penteado.
O cabelo afro também apresentou menor conteúdo de água em relação aos cabelos caucasiano e oriental. A queratina acumulava no lado côncavo da curvatura enquanto que, nos fios mais lisos, a distribuição era feita uniformemente por toda a extensão da fibra capilar.
Por ter uma estrutura mais delicada, o fio de cabelo de origem africana teve menor resistência às altas temperaturas. A desnaturação (perda estrutural das proteínas) aconteceu a uma temperatura em torno de 223º C, enquanto que nas outras amostras as proteínas se desnaturaram em torno de 236º C.
Minimizando os danos
A pesquisadora da USP afirma que os protetores térmicos disponíveis no mercado não evitam danos aos cabelos, apenas minimizam os prejuízos. No estudo de proteção térmica, foram testados dois produtos: um condicionador leave-on (que não recomenda enxague após a aplicação) e uma mistura de silicone. Como resultado, o cabelo descolorido respondeu melhor ao silicone, e o virgem, ao leave-on.
Cibele esclarece que isso ocorreu porque o silicone forma uma película de baixa condutividade térmica em volta do fio que protege o cabelo contra o calor da chapinha. Já o leave-on, por ter bastante água em sua composição (entre 60 e 70%), penetra no fio com mais facilidade, sem se fixar na superfície. Nas mechas de cabelos virgens, por serem mais uniformes, o leave-on permaneceu nas camadas externas, o que não ocorreu com os cabelos descoloridos. Cibele ainda alerta que é importante a escolha adequada de cosméticos e afirma que o nível de proteção desses cosméticos dependerá da composição química, do tipo de produto e do estado em que os cabelos se encontram.
(com Jornal da USP).