O trabalho envolveu a maior série de casos confirmados de exposição à zika com dados coletados sistematicamente. "Conseguimos fazer um estudo descritivo das anormalidades oculares, correlacionando-as com achados do sistema nervoso central, ocorrência de microcefalia e o momento da infecção materna a partir de uma coorte robusta, envolvendo bebês cujas mães tiveram resultado laboratorial positivo para a infecção na gestação", destacou a oftalmologista pediátrica Andrea Zin, do IFF e autora do artigo.
Das 112 crianças acompanhadas do nascimento até os 6 meses de vida, 46 não tinham diagnóstico de microcefalia. No entanto, 10 delas apresentaram anormalidades oculares no exame de fundo de olho. O número representa 42% das crianças com algum tipo de lesão oftalmológica, sendo questões referentes ao nervo óptico e a retina os achados mais frequentes. O estudo também revelou que a maioria das gestantes foi infectada ainda no primeiro trimestre (58%). Em 33%, a infecção aconteceu no segundo trimestre e, em 8%, no final da gestação, já no terceiro trimestre.
As diretrizes atuais recomendam exames oculares em bebês com microcefalia, mas não inclui todas crianças potencialmente expostas ao zika vírus no útero.
Os achados, ilustrados no artigo do Jama, foram registrados por meio da RetCam, câmera fotográfica especial adquirida pela Fiocruz no final do ano passado. O investimento foi fundamental para possibilitar o estudo e sua publicação. "Através deste equipamento, que fotografa em 360º o fundo de olho, conseguimos documentar as alterações com grande riqueza de detalhes, possibilitando a comparação de exames subsequentes. Com isso, foi possível não só refinar a capacidade de diagnóstico, como também tornar mais acessível a troca de informações entre especialistas", esclarece a pesquisadora.
(com Agência Fiocruz).