A professora esclarece que ouvir é um ato involuntário, mas o "modo como se ouve é particular, singular e consiste na construção interpretativa do ser humano". Além disso, como somos "bombardeados" por estereótipos, o que fica é o "reconhecimento do sempre igual, rejeitando aquilo que se diferencia do padrão, da percepção do novo". Se a sensibilidade é responsável por nossas escolhas, determinando a construção do gosto e de nosso juízo estético, na sociedade capitalista a construção dos hábitos de audição e formação musical está repleta de reflexos condicionados, como mostra a especialista. "Da repetição ao reconhecimento, do reconhecimento à aceitação. Com esse paradigma, não há quem escape da influência e do controle da indústria da cultura", afirma Cristina Camargo.
A música popular urbana é a que mais contribuiu para a "padronização e mudanças nos hábitos de audição com a estagnação de padrões como a estrutura de distração, ligada à mecanização do trabalho", na opinião da professora da Udesc. O entretenimento passa a ser uma forma de relaxamento uniforme, sem esforço de atenção.
Com isso, a estudiosa aponta a importância da reinserção da música como disciplina nas escolas, que em sua visão deveriam contar com um conteúdo curricular musical abrangendo história da música e da arte. Ela salienta ainda a importância da postura crítica do educador para ajudar na construção de bons hábitos da audição, preservando a diversificação do gosto musical dos alunos. Tudo isso em um "processo vivo, dinâmico e mutável, de análise, interpretação e escolha, preparando-os para o desenvolvimento futuro de seu juízo estético, na valorização da música enquanto linguagem". O objetivo é que os estudantes adquiram um "pensamento crítico por meio da invenção, apreciação/especulação e práticas musicais", que lhes possibilite "ouvir, escutar, interpretar, compreender, julgar e escolher".
(com Jornal da USP).