A hipertensão é uma doença cardiovascular crônica e uma das principais causas de morte no mundo. No Brasil, a estimativa é que 25% da população seja hipertensa. Temos elevadas taxas de sedentarismo e alto consumo de alimentos com excesso de sal. No nordeste, por exemplo, a ingestão chega a ser até três vezes maior que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou seja, 5 mg por dia.
A experiência da USP foi feita com ratos submetidos a uma dieta com altas concentrações de sal desde o momento em que deixaram de ser alimentados pelo leite materno. Doze semanas depois, período em que se constituía a vida adulta dos animais, eles se tornaram hipertensos. Segundo Vagner Roberto Antunes, coautor da pesquisa e professor do ICB, foram verificadas alterações significativas nos mecanismos do sistema nervoso, em áreas que controlavam a pressão arterial.
Hipertensão: rins ou cérebro?
A pergunta é de grande debate no meio científico. O professor afirma que ambos os sistemas possuem participação no controle da pressão arterial. O rim tem uma função fundamental na manutenção do equilíbrio das concentrações de sódio e da quantidade de líquido do corpo, além de produzir uma enzima, chamada renina, que é liberada na corrente sanguínea sempre que a pressão estiver abaixo do normal, a fim de equilibrá-la. No entanto, há algumas décadas, muitos estudos têm demonstrado que o Sistema Nervoso Central (mais especificamente, o Sistema Autônomo Simpático) participa diretamente do controle fisiológico da pressão arterial frente a diferentes situações, como a exposição a dietas ricas em sal, relata Vagner Antunes.
Quando o organismo é desafiado pela ingestão de alimentos com alto teor de sal, como ocorreu na pesquisa em laboratório, "o sistema nervoso tem sensores capazes de detectar este excesso, que resulta em alterações nas neurotransmissões entre núcleos que controlam a pressão sanguínea". A hiperatividade do sistema aumenta o trabalho do coração e desencadeia contrações dos vasos sanguíneos, o que leva ao desenvolvimento de um quadro clínico de hipertensão neurogênica, explica o pesquisador.
Mesmo os rins estando saudáveis e trabalhando para eliminar o excesso de sal do organismo, os sensores do sistema nervoso detectam que houve alteração de nível de sal e passam a trabalhar ativamente devido ao estímulo do sódio. Permanecendo os hábitos alimentares inapropriados, o cérebro, por ter plasticidade neuronal, se adapta estrutural e funcionalmente e adota um novo padrão de atividade, levando, assim, a pessoa a um quadro de hipertensão crônica.
(com Jornal da USP).