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Rótulos de produtos alimentícios confundem os consumidores, diz Idec

Anvisa está pensando em mudar as regras para apresentação dos ingredientes nas embalagens

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Dados nutricionais como valor energético, quantidade de proteínas, de gorduras saturadas, de sódios e açúcares precisam obrigatoriamente estar impressos nas embalagens de alimentos industrializados.
Essas regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foram criadas para garantir aos consumidores o acesso a informações sobre os produtos à venda no mercado brasileiro. Contudo, o tamanho das letras, os termos técnicos e a poluição visual dos pacotes dificultam o entendimento. Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), apenas 25,1% da população é capaz de compreender totalmente o que dizem os rótulos.

"Por mais que as pessoas consigam ler e entender os números e a lista de ingredientes expressos na tabela, será que de fato os consumidores entendem o que estão comendo e as consequências daquele alimento para a saúde deles? Eles entendem que a maltodextrina é açúcar?", questiona a nutricionista Ana Maria Thomas, do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB).

A consequência dessa falta de clareza sobre o que é saudável, aliado à publicidade feita por indústrias alimentícias, tem desencadeado consumo excessivo de produtos ultraprocessados, como biscoitos, sorvetes e macarrões instantâneos. Esses alimentos contêm muito sódio, gordura e açúcar, os três principais elementos responsáveis por causar as chamadas doenças crônicas não transmissíveis: câncer, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Segundo o Ministério da Saúde, em 2013, 72,6% do total de mortes no Brasil foram em decorrência desses problemas.

"O excesso de sódio é uma das causas da hipertensão, o excesso de açúcar acaba levando à diabetes e a gordura causa a obesidade. Esses alimentos industrializados têm muito esses três elementos, que juntos aumentam o risco cardiovascular do paciente", explica a endocrinologista Helena Farhat.

De acordo com o Ministério da Saúde, a obesidade aumentou 60% em 10 anos, passando de 11,8% dos brasileiros em 2006, para 18,9%, em 2016. Ao mesmo tempo, o número de pessoas diagnosticadas com diabetes cresceu 61,8%, e o número de pessoas hipertensas, 14,2%.

Novos padrões

Desde 2014, a Anvisa mantém um grupo de trabalho sobre rotulagem nutricional.
Neste ano, a equipe apresentou opções para resolver os problemas que prejudicam a efetividade dos rótulos.

A maioria das propostas focou em modelos de rotulagem que utilizam cores e são localizadas no painel frontal dos alimentos. Algumas propostas contemplaram também modificações na tabela nutricional.

A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação defende a rotulagem frontal com base indicativa por porção, onde os ícones de sódio, açúcares totais e gordura saturada passam a ser coloridos em verde, amarelo e vermelho, modelo semelhante ao utilizado pelo Reino Unido.

Por outro lado, o Idec apoia o "selo de advertência frontal", modelo adaptado do Chile, nas cores preta e branca com os dizeres: "contém muito açúcar", "contém muito sódio" e "contém muita gordura". A nutricionista Ana Maria Thomas explica que as embalagens, normalmente, são muito coloridas para visualmente chamar a atenção dos consumidores. Então, um selo mais sóbrio destoaria dos pacotes embalagens e seria mais eficaz.

"Atualmente, não há estudos científicos publicados que comparem a efetividade dos modelos em questão na compreensão e na promoção de escolhas alimentares mais adequadas pela população brasileira. Adicionalmente, os estudos que comparam os modelos em questão realizados em outros países não podem ser extrapolados facilmente para a população brasileira, em decorrência das diferenças no nível educacional e no conhecimento sobre nutrição. Assim, existe incerteza sobre qual o modelo seria mais efetivo para nossa população", comenta a Anvisa em nota enviada à Agência Senado.

(com Agência Senado).