Para ajudar a combater o avanço dessa droga, especialmente em relação aos dependentes, está sendo desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) uma vacina anticocaína. A patente do remédio já foi depositada pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG, e é fruto do trabalho de pesquisadores do departamento de Química, da Escola de Farmácia e da Faculdade de Medicina.
O estudo visa obter substâncias com propriedade imunogênica que possam ser usadas no tratamento de dependentes químicos da cocaína. Segundo o professor Ângelo de Fátima, do departamento de Química, a propriedade imunogênica é a capacidade que uma substância tem de induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos. Esse sistema é a base para a criação de qualquer vacina. "Uma plataforma proteica é conectada a uma determinada substância na qual se pretende produzir o anticorpo. Depois de introduzida no organismo, a vacina ativa o sistema imunológico do paciente, e ele produz o anticorpo contra o agente que deve ser combatido", explica o especialista.
Na fase de testes realizados com roedores, os pesquisadores da UFMG perceberam que quantidades menores da droga chegaram ao cérebro dos animais vacinados. "A indução de anticorpos provocada pela vacina reteve uma quantidade maior da droga no sangue do roedor, não chegando ao cérebro do animal, que é o alvo biológico da cocaína.
Os testes com os roedores já foram finalizados, e o conselho de ética da universidade está avaliando o início dos experimentos com primatas, etapa que deve começar nos próximos meses. O grupo vai avaliar a toxicidade e a segurança da vacina, observando possíveis efeitos colaterais da substância. Depois, será iniciado o protocolo de testes em humanos, última etapa para que o imunizante possa ser comercializado.
Ângelo de Fátima explica que há, nos Estados Unidos, uma vacina anticocaína em desenvolvimento, porém a substância em teste nos laboratórios da UFMG apresenta uma diferença estrutural importante que facilita a sua produção. "As vacinas convencionais, como a anticocaína dos EUA, originam-se de plataforma proteica, que pode ser uma proteína de vírus ou de bactéria. A nossa vacina vale-se de uma plataforma não proteica feita 100% em laboratório", conta.
(com Boletim da UFMG).