Nos 18 pontos monitorados pela SOS Mata Atlântica, a qualidade da água foi considerada imprópria para consumo humano e usos múltiplos, como pesca, irrigação e produção de alimentos. Apenas três pontos apresentam conformidade com o padrão definido na legislação brasileira para turbidez, um dos indicadores diretamente associado ao impacto da lama de rejeito de minérios, segundo a fundação.
Em sete dos 16 pontos que apresentam qualidade de água péssima e ruim foi constatada ausência de vida aquática, como girinos, sapos e peixes. "Nesses locais, o espelho d'água estava repleto de insetos e pernilongos, vetor de graves problemas de saúde pública, como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela", comenta Malu Ribeiro, especialista em água da SOS Mata Atlântica e responsável pela expedição.
A equipe da fundação percorreu o rastro da lama por 733 km ao longo de todo o rio Doce, desde suas nascentes – os rios Gualaxo do Norte, Piranga e Carmo – até a foz, no oceano Atlântico. A bacia banha 29 municípios e distritos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Confira o comparativo entre as análises realizadas em novembro 2015, logo após o rompimento da barragem, e em 2016 e 2017:
Apesar de visualmente a água estar mais clara, Malu Ribeiro explica que o sedimento de rejeito de minério está presente em todo o leito do rio e, por ser muito fino, qualquer movimento das águas faz com que ele fique em suspensão, aumentando novamente a turbidez para índices impróprios. "A seca extrema e o baixo volume das águas causaram uma concentração dos poluentes, o que fez com que a poluição, apesar de imperceptível a olho nu, esteja em concentração bem maior do que no ano passado", comenta a ativista.
Apesar de estarem longe do cenário ideal, nove pontos de coleta apresentaram sinais de vida aquática, conforme o estudo da SOS Mata Atlântica. Eles estão localizados onde existem fragmentos de mata nativa ou que contam com áreas de preservação permanente.
A elevada turbidez, o baixo volume dos rios, o excesso de nutrientes em decomposição lançados pelo esgoto sem tratamento e as altas temperaturas reduziram os índices de oxigênio dissolvido. “Para a recuperação da qualidade da a%u0301gua, e%u0301 essencial que sejam adotadas medidas efetivas de restaurac%u0327a%u0303o florestal com espécies nativas, de revitalização da bacia e a ampliação dos serviços de saneamento básico e ambiental nos municípios afetados”, acrescenta Malu..