A ideia de usar smartphones e tablets não é substituir os profissionais de saúde, mas complementar o tratamento, afirmam os cientistas, já que atingem o paciente nos pontos em que a abordagem tradicional não costuma surtir efeito.
É o caso do aplicativo Outcome Feedback, desenvolvido por pesquisadores europeus, sob a liderança do instituto Wellcome Trust, da Inglaterra.
A pesquisa foi realizada com mais de duas mil pessoas em oito centros de tratamento para a depressão na Inglaterra. Com os dados fornecidos pelos pacientes, o terapeuta os insere no software, que gera gráficos mostrando alterações do nível sintomático do usuário. O app possui um algoritmo que compara o estado de ânimo da pessoa com o que seria esperado para aquela etapa do tratamento e avisa o especialista caso a resposta esteja aquém do esperado. No estudo inglês, o uso do software reduziu em 74% a probabilidade de o paciente piorar e, assim, abandonar o acompanhamento profissional.
Uma das vantagens das ferramentas tecnológicas é poder acompanhar o paciente 24 horas por dia, oferecendo uma rápida resposta, algo impossível de ser feito pelas vias convencionais. A maioria dos aplicativos de celular na área da saúde mental explora essa funcionalidade, e os resultados de estudos indicam que, sendo amparado em tempo real, o paciente tem mais chances de melhorar, além de aderir mais ao tratamento.
Zeev é autor de um estudo publicado recentemente na revista Psychiatric Services e que avaliou um aplicativo chamado Focus, voltado a pacientes com depressão severa, transtorno bipolar e esquizofrenia. Dos 163 voluntários que participaram da pesquisa, 90% utilizaram o app ao menos uma vez. Ao mesmo tempo, somente 58% compareceram à sessão de terapia em grupo nessa mesma frequência. Segundo o professor, a maior vantagem da ferramenta é a conveniência de ter disponível o atendimento em qualquer lugar e a qualquer momento, algo que é essencial quando se sofre com sintomas como alucinações, alterações de humor e abuso de medicamentos, entre outros.
"As doenças mentais graves afetam aproximadamente 4% da população. Com o suporte apropriado, essas pessoas podem ter vidas produtivas e satisfatórias. Porém, o momento em que mais precisam gerenciar a doença geralmente é aquele em que elas evitam procurar ajuda, pois têm medo de ser estigmatizadas e rotuladas ou mesmo pela dificuldade de acesso a clínicas", afirma Dror Zeev. O Focus é uma intervenção voltada para pacientes com esse perfil, que oferece um aplicativo e assistência de especialistas em saúde mental..