O levantamento vai ao encontro de diversos estudos internacionais que revelam que a endometriose pode levar ao desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão, por exemplo. Segundo o ginecologista Edvaldo Cavalcante, responsável pelo estudo do Gapendi, a cronicidade da endometriose é o principal fator de risco para os transtornos mentais, juntamente com a dor pélvica crônica e a infertilidade.
"Uma doença crônica, como a endometriose requer diversos cuidados com a saúde e causa preocupações que podem elevar o nível do estresse. A tensão já começa na busca pelo diagnóstico, que pode levar em média oito anos aqui no Brasil, de acordo com nossa pesquisa, sendo a média mundial de sete anos. Passar por vários médicos pode ser desgastante, principalmente quando as queixas são desvalorizadas e há dificuldade em confirmar as suspeitas", comenta o especialista.
Justamento o diagnóstico correto acaba sendo o momento mais delicado do problema que afeta o endométrio (membrana que reveste o útero), pois pode aumentar o estresse e a ansiedade. "Ao receber a notícia, a mulher se dá conta que tem uma doença incurável, que pode afetar diversos aspectos da vida, como trabalho, estudos, convívio social, relacionamento e, para algumas, o sonho de ser mãe, por exemplo", diz Marília Gabriela, coordenadora do Gapendi.
"A notícia deve ser dada com muito zelo por parte do médico e é interessante que a mulher seja aconselhada a procurar ajuda psicoterápica para lidar com o impacto inicial do diagnóstico", completa o médico. Entretanto, isso não é uma realidade no Brasil. A pesquisa do Gapendi mostra que apenas 24% das entrevistadas foram orientadas a procurar um psicólogo ou terapeuta e só 13% seguiram a recomendação.
A boa notícia é que o levantamento também descobriu que nem todas as mulheres com endometriose são suscetíveis ao desenvolvimento de transtornos psiquiátricos por conta da doença.
De todos os impactos da endometriose na saúde mental, segundo o estudo, a relação com a dor pélvica crônica é a mais importante. "Segundo a nossa pesquisa, 91% das brasileiras com endometriose sentem dor em algum momento, sendo que 34% delas sofrem durante 15 dias no mês, entre a ovulação e a menstruação. Certamente, conviver com a dor de forma crônica é o aspecto mais difícil de lidar na endometriose", comenta Marília Gabriela..