Os resultados mostraram que, por não ter porosidade, a membrana é adequada para aplicações como barreira.
Apesar de o uso de membranas de celulose bacteriana como pele artificial ser comum desde a década de 1980, esse tipo de fabricação é um processo de baixo rendimento e alto custo. Por esse motivo, o grupo buscou um produto economicamente viável, além de eficaz. "O objetivo do trabalho foi desenvolver membranas de nanofibrilas de celulose vegetal com adição de agente cicatrizante e bactericida como calêndula e nanopartículas de prata", conta Washington Magalhães. A pesquisa utilizou o pinus como fonte da celulose.
Ao longo dos anos, uma grande variedade de substâncias tem sido utilizada como agente protetor nas lesões por queimaduras. O princípio básico de um curativo para queimaduras é não agredir a pele, proporcionando um ambiente adequado para recompor o tecido: estéril, úmido e protegido do meio externo.
O que os testes com a nanocelulose revelaram é que o material tem potencial para uso como curativo, apresentando resultados de cicatrização semelhantes aos similares disponíveis comercialmente, sem sinais de rejeição.
Curativo melhorado
Segundo o levantamento realizado pelos pesquisadores, comparado ao principal produto disponível no mercado, o filme celulósico pode ter um custo quase mil vezes menor. "Isso significaria, por exemplo, uma oportunidade para reduzir custos no Sistema Único de Saúde", sugere Washington.
Os cálculos levaram em conta o uso da celulose branqueada oriunda da indústria de papel e celulose. "São necessárias algumas etapas para transformar a celulose em nanocelulose fibrilada e esta em filme. Caso surjam indústrias para produzir nanocelulose em uma escala maior, provavelmente será mais vantajoso comprar o gel de nanocelulose produzido por elas e suprimir uma etapa do processo. Mesmo se a empresa produtora de curativos quiser verticalizar a produção, ainda assim será possível ter um preço competitivo", afirma o pesquisador.
O estudo também revelou que com a associação de nanopartículas de prata à membrana, após 24 horas, o filme liberou 61% do metal precioso em meio úmido, o que indica que, se a ação bactericida depende da liberação do elemento, o produto apresenta potencial antibacteriano desde as primeiras horas de uso.
Os cientistas também investigam a possibilidade de associar outros produtos naturais para dar diferentes funcionalidades à membrana. Uma das opções seria o óleo de calêndula, de origem vegetal e famoso por possuir propriedades cicatrizantes. "Já desenvolvemos um filme com esse produto, em escala de laboratório, mas ainda não testamos sua eficiência em lesões de pele. No entanto, existem alguns pontos que devem ser considerados, como as reações alérgicas ao óleo e o aumento dos custos de produção", revela Washington Magalhães.
Tradicionalmente, a celulose tem outras aplicações na área biomédica, sendo já utilizada em tratamentos renais, substituto temporário de pele, agente hemostático, reconstrução de tecidos, barreira pós-operatória e material de cultura de hepatócitos (células do fígado capazes de sintetizar proteínas).
(com assessoria de imprensa da Embrapa Florestas).