Na análise, os pesquisadores combinaram projeções de cinco modelos diferentes para prever o aumento do consumo da energia no Verão e calcularam como isso afetaria o uso de combustíveis fósseis, a qualidade do ar e, consequentemente, a saúde humana daqui a poucas décadas. "O que descobrimos é que a poluição do ar vai piorar. Há consequências na adaptação do homem às futuras mudanças climáticas", destaca o pesquisador David Abel, principal autor do estudo, no artigo de divulgação.
Com base nos cenários avaliados, os cientistas constataram que, sozinho, o ar-condicionado será responsável pelo aumento da mortalidade nos Estados Unidos, país onde o estudo foi realizado, e cuja principal matriz energética são combustíveis fósseis. O padrão americano também se repete pelo mundo: mais de 80% da energia não é renovável e 60% vêm de fontes poluentes, como carvão e petróleo. No Brasil, carvão e derivados do petróleo constituem somente 6,6% da matriz energética, e 68,1% da energia é produzida pela água, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. Contudo, somos uma exceção no planeta.
A equipe da Universidade de Wisconsin-Madison calculou que o incremento das emissões de gases poluentes das termelétricas, causado pela demanda por ar-condicionado, pode aumentar de 4,8% a 8,7% a mortalidade associada à poluição atmosférica em 2050. A queima de combustíveis fósseis gera um subproduto invisível, mas muito prejudicial à saúde: o material particulado.
Mortalidade
"Nós descobrimos que as concentrações de material particulado fino e de ozônio vão aumentar 6,7%, apenas devido ao uso extra de ar-condicionado", observa o professor Jonathan Patz, um dos autores do estudo, no mesmo artigo. "Consistentemente com outros estudos, calculamos que as mudanças climáticas, sozinhas, causarão cerca de 13 mil mortes prematuras a mais no verão, associadas ao material particulado, e três mil relacionadas ao ozônio. Essa análise destaca a necessidade por fontes mais limpas de energia, eficiência energética e conservação energética para atender à nossa crescente dependência dos sistemas de refrigeração de prédios, ao mesmo tempo em que se mitiga a extensão das mudanças climáticas", acredita o pesquisador americano.
Patz ressalta que durante um Verão muito quentes, como o que vem sendo vivenciado no Hemisfério Norte em 2018, não há dúvidas de que o ar-condicionado pode salvar vidas, especialmente porque se estima que as ondas de calor vão aumentar em intensidade e frequência. Porém, ele destaca que se esse benefício é anulado pela quantidade de pessoas que morrerão prematuramente em consequência da poluição atmosférica. "Nós só vamos trocar de problema. Se nossa nação continuar a depender de uma matriz baseada em carvão, cada vez que ligarmos o ar-condicionado sujaremos a atmosfera, causando mais doenças e mortes", alerta o cientista..