"Isso é inaceitável para um país do porte do Brasil e com o nível de desenvolvimento que tem", afirma Léo Heller, relator Especial do Direito Humano à Água e ao Esgotamento Sanitário das Nações Unidas (ONU) e pesquisador do Instituto René Rachou, da Fiocruz de Minas Gerais, em entrevista à Agência Brasil.
Vale lembrar que a esquistossomose é causada por vermes parasitas que vivem na água doce e está diretamente relacionada ao saneamento básico. É considerada a segunda doença parasitária mais devastadora socioeconomicamente do mundo, atrás apenas da malária. No Brasil, há maior incidência na região nordeste e no estado de Minas Gerais.
Controle ambiental
Segundo Heller, o chamado controle ambiental da doença pode evitar que as pessoas, em especial as camadas mais pobres da população, contraiam a esquistossomose. "Intervenções no ambiente, impedindo a ocorrência dos criadouros e também dando condição às pessoas para que não tenham necessidade de acesso a cursos d'água, eu defendo como soluções permanentes de largo alcance e com grande efetividade", diz o especialista.
Ainda de acordo com o pesquisador, estudos mostram que quando há intervenção em esgotos, impedindo que cheguem a cursos d'água, ocorre uma interrupção de parte do ciclo de transmissão de várias doenças, especialmente a esquistossomose. Quando há fornecimento de água tratada nas casas, as populações ribeirinhas deixam de usar os cursos d'água, evitando uma das formas de contaminação por parasiats. "Há estudos que mostram que ambas as intervenções em água e esgoto têm efeito positivo no controle da esquistossomose", completa Léo Heller.
Planejamento
Para o pesquisador, é importante que haja planejamento de longo prazo, além de investimento público em saneamento. "Não há registro na maioria dos países de situações em que se universalizou o acesso sem forte investimento público".
Ele ressalta também que os serviços devem ser prestados com base nos princípios dos direitos humanos, ou seja, em igualdade de condições, sem discriminação.
(com Agência Brasil).