Revista Encontro

Cidade

Na 'contramão' do mercado: empresa contrata grávida de nove meses

O caso raro aconteceu numa empresa de tecnologia sediada em Belo Horizonte

Correio Braziliense
Num mundo em que o machismo ainda persiste, inclusive no ambiente de trabalho, o fato de uma empresa contratar uma funcionária grávida acaba virando notícia.
É o caso da belo-horizontina Marcela Caldeira, de 35 anos, que está com nove meses de gestação. Ela acaba de ser contratada pela empresa americana de tecnologia ThoughtWorks, que tem escritório no bairro Santa Efigênia, região leste de Belo Horizonte.

Além de seguir na "contramão" da lógica do mercado brasileiro, a empresa ainda ofereceu carteira assinada, direitos assegurados e seis meses de licença-maternidade. Em 2017, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou um estudo que entrevistou 247 mil mulheres que tinham parido há dois anos. O resultado é assustador: metade delas estava fora do mercado de trabalho 12 meses após o nascimento do bebê. "Minha história é uma exceção, mas eu queria muito ver mais histórias como essa. Queria que minha experiência fosse algo rotineiro", comenta Marcela em entrevista para o jornal Correio Braziliense.

Vale dizer que a belo-horizontina não estava desempregada, trabalhava numa startup brasileira há três anos e sempre esteve atenta às novas ideias e tendências do mercado, inclusive já se interessava pela ThoughtWorks, que é referência por se aliar a movimentos pró-diversidade. No sétimo mês de gravidez, Marcela Caldeira foi chamada para participar de um processo seletivo e em nenhum momento a condição foi um impeditivo.
"Estar grávida não foi um obstáculo. Eles deixaram claro que era a minha competência que estava sendo avaliada", conta. O cargo que conquistou continua o mesmo. Como designer de experiência, ela procura entender o comportamento dos usuários e propor soluções a partir de um novo software, uma nova interface ou um novo dispositivo.

A designer concorda que a gravidez é entendida equivocadamente no mercado de trabalho na maioria das situações, e acredita que as mulheres no geral sofrem discriminação. De acordo com ela, há um paradoxo: se por um lado há uma pressão da sociedade para uma mulher ser mãe, por outro, há esse preconceito. "Quando se está grávida o medo de ser demitida é iminente. A gente se cobra para sermos igualmente valorizadas. Uma fase que deveria ser leve, vira um momento de provação", diz Marcela ao Correio..