Revista Encontro

EDUCAÇÃO

Alunos de escola pública de BH calculam quantidade de lama em Brumadinho

O trabalho foi premiado num festival promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)

Gabriel Marques
Os alunos do sexto ano tiveram de usar alguns conceitos matemáticos do ensino superior para encontrar os resultados - Foto: Petrina Avelar/Divulgação
Dentro da sala de aula da Escola Municipal Minervina Augusta, no bairro Campo Alegre, na região norte de Belo Horizonte, os pequenos alunos da professora Petrina Avelar usam a matemática para resolver problemas de gente grande. Ela os conscientizou sobre a tragédia de Brumadinho, e os estudantes, que estão no sexto ano, aceitaram o desafio de descobrir qual quantidade de rejeito deveria ser retirada para iniciar a recuperação ambiental de uma das áreas atingidas. O trabalho dos pequeninos foi registrado pela professora em um vídeo, que foi inscrito no III Festival de Vídeos Digitais e Educação Matemática, promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

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Tudo começou com a construção de uma maquete que simularia o terreno atingido, baseada em imagens de satélites encontradas na época. Porém, a área soterrada pela lama tinha um formato muito irregular e completamente diferente do que as crianças estavam acostumadas a calcular nas atividades escolares. A solução encontrada foi preencher o espaço com quadrados cada vez menores, para depois encontrar a área aproximada. "A matemática usada não foi de sexto ano. Aplicamos conceitos como série convergente e soma de quadrados. Isso é matéria de ensino médio ou faculdade", conta Petrina.
No final, os alunos encontraram uma área atingida de mais de 500 mil metros quadrados. Para efeito de comparação, o Parque Municipal Américo Renné Giannetti - o mais conhecido e movimentado de BH - possui 182 mil metros quadrados.

Após calcular esse número, o desafio das crianças passou a ser calcular o volume de rejeitos que deveria ser retirado para recuperar a área atingida. Para isso, os pequenos tiveram de usar um mapa topográfico para traduzir na maquete o relevo da região analisada. O volume encontrado pelos alunos foi de aproximadamente 5.330 mil metros cúbicos, o equivalente a mais de duas mil piscinas olímpicas cheias.

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Com o título de "Mar de Lama: Modelagem na Educação Matemática", o vídeo produzido pela professora Petrina Avelar foi premiado pelo júri popular e técnico no III Festival de Vídeos Digitais e Educação Matemática. Além do reconhecimento acadêmico, a docente destaca os valores humanos aprendidos pelas crianças. "Os alunos se envolveram muito com o trabalho. Inclusive, eles queriam fazer uma modelagem para saber quanto dinheiro seria necessário com ajuda psicológica para os sobreviventes e as famílias dos que morreram. Os meus olhos enchem de água quando lembro disso", conta a professora.

Confira o vídeo do trabalho realizado pelos alunos da Escola Municipal Minervina Augusta sobre a tragédia de Brumadinho:



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