Há três anos, quando iniciou mentoria na Maison Escola de Arte, em Belo Horizonte, e começou a pesquisar sobre o tema, se deparou com um trabalho realizado pela historiadora Maria Claudia Magnani, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Diamantina. “Fiquei encantada, pois se tratava exatamente do universo mitológico das sibilas e seus oráculos no contexto do mundo pagão”, afirma Cecília. O registro mais remoto dessas mulheres se dá na Babilônia, migrando depois para a cultura greco-romana. Por meio do documentário Sibila no Tijuco, dirigido e produzido por Fernando Libânio, a artista descobriu como a tradição antiga incorporada ao cristianismo também ganhou um papel de destaque nas celebrações da Semana Santa em Minas Gerais.
. Inspirada nas cinco sibilas do ícone italiano Michelangelo Buonarroti, pintadas no teto da Capela Sistina, no Vaticano – Líbica, Cumeia, Délfica, Eritreia e Pérsica –, a artista iniciou a produção da primeira tela da série. Ela pretende realizar a exposição das obras ainda no segundo semestre deste ano, em Belo Horizonte. “Para mim, a arte tem história e precisa transmitir sentimento”, diz. Em busca da democratização da cultura, Cecília se empenha em levar a arte onde ela não está. “Gosto de expor em locais públicos, nas cafeterias, para desmistificar a crença de que a cultura é para poucos e só para quem tem dinheiro. Todo mundo tem o direito de apreciar e até de produzir arte, mesmo sem entender do assunto.”
Uma de suas obras preferidas, intitulada Eles não sabem o que fazem, é um Cristo carregado de emoções. “Quando o pintei, não tive coragem de colocar espinhos na coroa.” Entre seus artistas de referência, está o seu bisavô, o italiano Túlio Samorini, pintor de afrescos que participou da obra do Cassino de Monte Carlo em Mônaco, em 1838, e que se mudou para o Brasil em 1908. “Talvez tenha herdado dele a técnica que utilizo, um espatulado com tinta acrílica, textura e muita luz.” Neta de avó parteira e benzedeira, Cecília acredita que a fronteira entre o real e o sobrenatural é sutil. Essa sensibilidade transparece em suas obras, carregadas de simbolismo e de uma forte conexão emocional.
As telas produzidas pela artista, sempre em grande formato, trazem em seu estilo expressionista a estética humanizada a que se dedica. “Cada obra leva minha oração, minha gratidão e todo o amor que sinto pela vida e pela arte”, afirma