“A CineBH se firmou como uma plataforma estratégica para o cinema latino-americano, conectando mercados, formando novos públicos e impulsionando filmes que precisam circular. Em um momento marcado por atravessamentos e disputas simbólicas, reafirmamos o audiovisual da América Latina como território de criação, resistência e diálogo. Mais do que um festival, somos um espaço que provoca encontros capazes de transformar trajetórias, construir pontes e ampliar horizontes — colocando o cinema latino-americano no centro das conversas globais e como ferramenta vital de transformação cultural, social e econômica”, destaca Raquel Hallak, diretora da Universo Produção e coordenadora geral da Mostra CineBH e do Brasil CineMundi.
. Em seis dias de programação intensa, foram exibidos 101 filmes — 48 longas, 1 média e 52 curtas-metragens — em 71 sessões gratuitas, distribuídas em 12 mostras temáticas. As obras representaram 17 estados brasileiros e 13 países, incluindo Argentina, Colômbia, México, Cuba, República Dominicana, Equador, Peru, Chile, Uruguai, Porto Rico, Bélgica e Estados Unidos.
. A abertura do festival contou com a pré-estreia de “O Agente Secreto”, novo longa de Kleber Mendonça Filho, vencedor de três prêmios em Cannes 2025, incluindo melhor direção e melhor ator (Wagner Moura). A noite também prestou homenagem ao ator mineiro Carlos Francisco, referência de potência e versatilidade no audiovisual afro-brasileiro com trajetória que inclui os filmes Bacurau, Marte Um e Estranho Caminho. O artista foi lembrado como símbolo de resistência e representatividade.
. A programação formativa reafirmou o compromisso do festival com a qualificação profissional, o pensamento crítico e a formação de novos públicos. Foram disponibilizadas 160 vagas em sete atividades, incluindo oficina online, oficinas presenciais, laboratórios de roteiro e um lab de documentário. Também foram realizadas 48 sessões comentadas, com a presença de diretoras, diretores, roteiristas, produtoras e membros das equipes dos filmes.
. Um dos pilares da programação foi o Seminário Internacional, que reuniu especialistas, curadores, produtores, críticos e realizadores de 15 países em um ciclo de 16 debates, painéis e rodas de conversa. O Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting celebrou seus 16 anos reunindo mais de 200 profissionais de 16 países. Entre os 245 projetos inscritos, 37 longas foram selecionados. “O Brasil CineMundi é o evento de mercado do cinema brasileiro - onde o futuro do audiovisual começa. É aqui que apresentamos projetos em desenvolvimento, apostamos em novos talentos e exploramos novas possibilidades, tudo para promover a internacionalização do cinema nacional e fortalecer sua presença no cenário global.”, ressalta Raquel Hallak.
. Na área educativa, o programa Cine-Expressão – A Escola Vai ao Cinema impactou mais de 2 mil estudantes de 13 escolas públicas, exibindo 15 curtas infantojuvenis acompanhados de debates e material pedagógico. A mostra A Cidade em Movimento celebrou seus 10 anos com 13 filmes da Grande BH em sessões temáticas seguidas de rodas de conversa sobre identidade, memória, ativismo, gênero e direitos sociais.
. Premiação
Na cerimônia de encerramento, realizada no Cine-Theatro Brasil, foram anunciados os premiados da Mostra Território e do Brasil CineMundi. O prêmio de melhor filme da Mostra Território foi para “Quemadura China”, do Uruguai, dirigido por Verónica Perrotta. Segundo o júri oficial, a obra “ousa encarar de frente a fragilidade, lembrando-nos de que os corpos guardam memória e de que, mesmo na perda, pulsa a ternura”. A decisão destacou ainda “a beleza nascida do imperfeito, a ousadia estética e a entrega absoluta de seus intérpretes” e ressaltou a maneira como o filme entrelaça “o íntimo com o coletivo, o grotesco com o lírico, o teatral com o cinematográfico, num gesto de radical originalidade”.
. Na categoria Melhor Presença, o júri escolheu o elenco de “Chicharras”, do México, de Luna Marán. A justificativa apontou que a obra retrata “atos de resistência dentro do território que percorre” e experimenta “possibilidade de reinventar seus processos criativos e romper com as hierarquias individuais do cinema”. O júri destacou: “Fazer filmes é um processo conjunto capaz de retratar a complexidade e o encanto de uma comunidade”.
. O júri deu ainda destaque à montagem de “Huaquero”, do Peru, de Juan Carlos Donoso Gómez. A decisão enfatizou “uma arqueologia de terras ainda habitadas por mistérios a serem revelados; uma síntese de oito anos que nos lembra que a verdadeira escrita do cinema está na articulação de suas imagens e sons”. O texto acrescenta que o filme é capaz de “tornar visível o invisível, como na alquimia da prata, onde os halos ocultos na emulsão se revelam e se transformam em matéria perceptível”.
. O Prêmio Abraccine foi para “Punku”, do Peru, dirigido por Juan Daniel Fernández Molero e descrito como “uma refinada arquitetura do (in)consciente, entre memória, sonho, mito e realidade”. O júri ressaltou “a força do feminino na condução da narrativa” e reconheceu o filme como “um território íntimo e múltiplo, em que corpos e paisagens se transformam em matéria poética e perturbadora”. A Abraccine ainda concedeu menção honrosa a “Chicharras”, reconhecendo sua vitalidade “ao nos envolver em uma comunidade viva e autônoma, que, mesmo diante das caravelas perenes do colonialismo, afirma-se como um corpo político coletivo e insubmisso, uma verdadeira inspiração”.
. No Brasil CineMundi, o prêmio principal foi concedido a “Filhas do Mangue”, de Stella Carneiro. O júri destacou que o projeto traz “uma voz jovem, promissora e profundamente singular” e que “trata-se de um cinema que nasce nas margens de uma lagoa, em um estado ainda pouco representado, mas que, pela sua especificidade, tem o poder de dialogar com audiências maiores”.
. Na categoria Work in Progress, o Prêmio O2 Pós foi para “O Filho da Puta”, reconhecido por sua “narrativa sólida e envolvente, conduzida com humor ácido e estética crua”. O Prêmio Mistika ficou com “Lusco-Fusco”, pela “sensibilidade em abordar feminismo e violência contra a mulher” e pela “coragem em demonstrar esperança mesmo nos territórios mais sombrios”.
. Outros vencedores foram “A Fabulosa Máquina do Tempo”, premiado pelo The End, por sua “capacidade de unir potência artística e relevância social”; e “Arrudas”, de Matheus Moura, vencedor do Foco Minas, que “nos confronta com a vulnerabilidade de nossas próprias estruturas sociais” e transforma “a dor em poesia e o caos em uma reflexão lúcida sobre nossa fragilidade compartilhada”.
. “Você? Mãe?”, de Daniel Gonçalves e Nathalia Santos, recebeu três distinções: o DocBrasil, pelo “potencial de transformar o íntimo em universal e o pessoal em político”; o Prêmio Conecta, pela “coragem em desafiar convenções visuais com uma estética que parte da perspectiva de uma pessoa cega e de uma cineasta com deficiência motora”; e o Prêmio DocSP, pela “continuidade de uma carreira criativa que amplia perspectivas de viver e experimentar o mundo”.
. “Tomba Homem”, de Gibi Cardoso, foi contemplado pelo DocSP Study Center, por resgatar “a história de vida de referência em BH no movimento LGBTQIA+ e na resistência à ditadura”. O Prêmio FIDBA #Link foi para “Febre Tropical”, que traz “advertência histórica em um momento em que discursos autoritários ressurgem”.
. O Nuevas Miradas premiou “Toshi Voltou do Japão” por abrir “um espaço de reflexão sobre a experiência silenciada de uma geração de homens imigrantes atravessados pelo sofrimento mental”. O RIDM reconheceu “Enquanto te Escrevo a Paisagem Muda”, que “reinventa a road movie como cartografia afetiva e ecológica” e entrelaça “memória e amizade em uma narrativa poética que denuncia os impactos ambientais do nosso tempo”.
. Outros destaques foram “Soberbo”, vencedor do Prêmio Burning, pela ousadia de entrelaçar “ficção, fantasia e experimentalismo”; “Sapatour”, premiado pelo World Cinema Fund, por ser “uma celebração rebelde e vibrante, com enorme potencial de ressonância global”; e “Diamante, o Bailarina”, agraciado pelo MAFF/Projeto Paradiso por sua “capacidade de promover a inclusão social ao refletir realidades muitas vezes invisibilizadas” e inspirar “uma cultura de respeito e aceitação em todas as formas de ser e viver”.
. O coletivo Filmes de Plástico concedeu prêmios de incentivo a “Brilhante”, pela “originalidade e relevância LGBTQIAPN ”, e a “Omágua Kambeba”, considerado “um projeto ambicioso e ousado, capaz de renovar a cinematografia brasileira”.
. Lista dos Premiados
Mostra Território
Longa-metragem: Quemadura China, Uruguai, direção de Verónica Perrotta
Melhor Presença: Chicharras, México, direção de Luna Marán
Destaque do Júri (Montagem): Huaquero, Peru, direção de Juan Carlos Donoso Gómez
Prêmio Abraccine: Punku, Peru, direção de Juan Daniel Fernández Molero
Brasil CineMundi
Júri Oficial
Filhas do Mangue (AL) — direção de Stella Carneiro, produção de Rafhael Barbosa
WIP – O2 Pós
O Filho da Puta (MG / RS) — direção de Erica Maradona, Otto Guerra, Sávio Leite e Tânia Anaya; produção de Cissa Carvalho, Elisa Rocha e Tatiana Mitre
WIP – Mistika
Lusco-Fusco (SP) — direção de Bel Bechara e Sandro Serpa; produção de Rafaella Costa
WIP – The End
A Fabulosa Máquina do Tempo (RJ) — direção de Eliza Capai; produção de Mariana Genescá
Foco Minas
Arrudas (MG) — direção de Matheus Moura; produção de Antonio Pedroni e Matheus Moura
DocBrasil
Você? Mãe? (RJ) — direção de Daniel Gonçalves e Nathalia Santos; produção de Dani Nascimento, Daniel Gonçalves, Roberto Berliner e Sabrina Garcia
Conecta
Você? Mãe? (RJ) — direção de Daniel Gonçalves e Nathalia Santos; produção de Dani Nascimento, Daniel Gonçalves, Roberto Berliner e Sabrina Garcia
DocSP
Você? Mãe? (RJ) — direção de Daniel Gonçalves e Nathalia Santos; produção de Dani Nascimento, Daniel Gonçalves, Roberto Berliner e Sabrina Garcia
DocSP Study Center
Tomba Homem (MG) — direção de Gibi Cardoso; produção de Lucas Uchôa e Victória Morais
FIDBA #Link
Febre Tropical (SP) — direção de Andy Malafaia e Carolina Höfs; produção de Leonardo Mecchi
Nuevas Miradas
Toshi Voltou do Japão (SP) — direção de Marcos Yoshi; produção de Rica Saito
RIDM
Enquanto te Escrevo a Paisagem Muda (PE) — direção de Anna Lu Machado e Artur Monteiro; produção de Thaís Vidal
Burning
Soberbo (MG) — direção de Camila Matos e Juliana Antunes; produção de Juliana Antunes
MECAS
Omágua Kambeba (AM) — direção de Adanilo; produção de Ítalo Bruce
WCF – World Cinema Fund
Sapatour (SP) — direção de Gab Lourenzato; produção de Well Darwin
MAFF / Projeto Paradiso
Diamante, o Bailarina (SP) — direção de Pedro Jorge; produção de Heverton Lima
Filmes de Plástico – Prêmio Especial
Brilhante (MG) — direção de Carol Silva e Karen Suzane; produção de Carol Silva
Filmes de Plástico – Prêmio Principal
Omágua Kambeba (AM) — direção de Adanilo; produção de Ítalo Bruce