A curadoria assinada por Tina Dias, Cris Aguiar e Carolina Correa busca, nesta edição, evidenciar a potência criativa de artistas maduros, indo além de trajetórias já consolidadas para valorizar a ação de quem, muitas vezes, ainda enfrenta silenciamentos e exclusões dentro e fora das artes. “Num momento em que o debate sobre diversidade e acessibilidade ganha força, é urgente criar espaços que reconheçam e valorizem artistas que, pela idade, gênero ou condição social, foram historicamente marginalizados”, destaca Carolina Correa. Para Tina Dias, a proposta também é inverter a lógica que associa juventude à ação e maturidade ao recuo. “São elas que estão hoje mais ativas e presentes nas políticas públicas, liderando movimentos, participando em decisões e mostrando um compromisso enorme com a transformação social. Enquanto muitas vezes se tenta associar a juventude à ação e a maturidade ao recuo, vejo exatamente o contrário: as pessoas 50 são as que têm colocado corpo, experiência e voz na construção de um futuro mais justo”, afirma.
. Programação
A programação se abre com o espetáculo “Quimera”, do histórico Grupo La Trinchera, um dos mais importantes do Equador. Na trama, dois soldados impedem que artistas de circo itinerante cruzem a fronteira, numa fábula política e poética sobre migrações, limites e muros invisíveis. O grupo, fundado em 1982 na cidade de Manta, é reconhecido por transformar a cena cultural local em referência internacional, não apenas com a realização de festivais, mas também pela formação de jovens e abertura do seu centro de artes à comunidade.
. Entre as produções brasileiras, destacam-se “Contadoras de Filmes”, de Myriam Nacif, baseada na obra de Hernán Rivera Letelier, que celebra a oralidade e a resistência feminina; “Menino do Olho que Vê”, solo de Dudu Melo, que transforma a perspectiva da deficiência visual em potência artística; e “Isidoro: um negro de quilate”, com Evandro Passos, que revive a trajetória de resistência de um faiscador negro escravizado em Minas Gerais que conseguiu comprar sua liberdade e a de outros. Também integra a programação o solo “Outono”, da atriz e diretora Cida Falabella, dirigido por Cris Tolentino, que reflete sobre o envelhecer como mulher e artista, além de “Envelhecer”, exercício cênico do Grupo Maturidade em Cena, formado por mulheres acima dos 60 anos, que ironiza situações de preconceito vividas diariamente pelas atrizes.
. Da Argentina, chegam dois trabalhos de forte caráter pessoal e político. Em “Animal Anterior”, a atriz Silvia Estrin, de 75 anos, interpreta a metamorfose de seu próprio corpo, que transita do humano ao réptil, numa obra sobre envelhecimento e reinvenção. Já “Mirta, uma biografia não autorizada” apresenta o encontro em cena entre mãe e filho: Mirta, de 78 anos, ciclista e lutadora que enfrentou ventos contrários e preconceitos sociais, e Juan Manuel, seu filho e diretor do espetáculo. A montagem mistura teatro, drogas, bicicletas, vinho e reflexões sobre a vida e a morte a partir da intimidade da própria protagonista.
. O festival também abre espaço para a festa e a irreverência com o ‘Cabaré de Variedades 50 ”, conduzido por Adriana Morales, do Grupo Trampulim, reunindo humor, música, poesia, circo e teatro em uma celebração da maturidade como potência criativa. Para além da cena, o ELA promove rodas de conversa como “Estamos Aqui – Coexistências”, em que artistas e gestores culturais discutem a permanência da geração 50 na cena artística e nas políticas públicas, e “O Fio dos Saberes”, encontro dedicado à troca de experiências sobre memória, coletividade e processos criativos.
5º ELA – Encontro Latinoamericano de Teatro
Onde: Funarte MG (Rua Januária, 68 - Centro) e C.A.S.A. (Rua Himalaia, 69 - Vale do Sol, Nova Lima)
Ingressos para os espetáculos a R$20 e R$10 (meia) na Sympla
As demais atividades da programação são gratuitas
Programação completa no Instagram