Revista Encontro

Teatro

Espetáculo "A Língua do Fogo" explora labirintos da memória e do sonho

Monólogo de autoficção de Vinícius de Souza estreia neste sábado no SESIMINAS, unindo lembranças pessoais, crítica social e referências literárias

Da redação
Em cena, Vinícius de Souza interpreta um professor que, em meio a uma aula, esquece o próprio nome - Foto: Ethel Braga/Divulgação
Como se constrói — e como se desfaz — a identidade de uma pessoa? Essa pergunta conduz a trama de “A Língua do Fogo”, monólogo de autoficção do ator e dramaturgo Vinícius de Souza, que estreia neste sábado (13), às 20h, no Teatro de Bolso do Centro Cultural SESIMINAS, dentro da Mostra de Criações do Festival Sesi em Cena.
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Ambientado no Brasil dos anos 1990, em meio à formação das cidades industriais e ao neocolonialismo latino-americano, o espetáculo aborda memória, identidade e pertencimento a partir de experiências vividas pelo artista na infância, no subúrbio de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Na fronteira entre sonho e real, trágico e cômico, íntimo e coletivo, a peça convida o público a atravessar o palco como quem atravessa um labirinto. A direção é assinada por Paulo André (Grupo Galpão) e João Marcelo Emediato.
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Em cena, Vinícius interpreta um professor que, em meio a uma aula, esquece o próprio nome. Esse lapso banal desorganiza a racionalidade da realidade e inaugura um espaço fragmentado, onde tempo, linguagem e sonho se confundem. A partir daí, o protagonista percorre lembranças da infância: a rádio de bairro onde a mãe revela sua história de vida, o amigo albino que se refugia do futebol no vestiário, o jantar de família invadido pela figura do patrão japonês, e o tio poeta e alcoolista que descobre ter se tornado fantasma em uma peça escrita pelo sobrinho.
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“Em todos os meus trabalhos, sobretudo quando assino a dramaturgia, as minhas memórias e experiências de vida estão sempre presentes, camufladas de ficção. Acontece que alguns trabalhos parecem exigir um pacto mais complexo e provocativo entre o real e o ficcional, o corriqueiro e o absurdo; como se a sua matéria prima morasse justamente nessa tensão”, comenta o artista, que já dirigiu projetos do Grupo Galpão e foi indicado a prêmios como APCA e Shell.
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Depois de espetáculos como “O Maior Trem do Mundo” (2023) e “Os Terrestres” (2024), em que explorou o imaginário rural mineiro, Vinícius volta-se agora para a cidade, o chão de fábrica e os códigos corporativos estrangeiros. “Esses temas que marcam em definitivo a minha experiência de vida e a história dos meus antepassados, parecem exigir que eu, como performer, assuma a mim mesmo no palco, fazendo do espaço teatral um lugar de fabulação desse contexto que é pessoal, mas também coletivo. Uma escolha também estética, já que ao lançar o espectador nesse tipo de jogo, a experiência teatral também passa a ter contornos mais borrados, ambíguos, confusos, que é exatamente o modo como eu vivo a história que estou contando!”

As histórias pessoais são atravessadas pelos fantasmas coloniais da América Latina, com inspiração na obra de Jorge Luís Borges. “Tenho sido um leitor incansável do Borges. Já conhecia os contos mais famosos, mas, nos últimos anos, me dediquei mais profundamente à sua obra. A forma labiríntica dos seus textos, a fragmentação do tempo, o modo como os sonhos estão presentes nas narrativas e a perspectiva de que todas as coisas do mundo se relacionam entre si me fascinam e, sobretudo, me deram as chaves para reler a minha própria história e levá-la para o palco, de modo mais intrigante e sinuoso”, afirma.
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A cena aposta no minimalismo, com direção de arte de Luiz Dias, iluminação de Felipe Tristão e sonoridade original do pianista Davi Fonseca, que assina trilha composta especialmente para o espetáculo. “As músicas que foram compostas originalmente para a peça, amplificam as tensões, os mistérios e as emoções vividas pelas personagens. A sonoridade do piano dá também delicadeza e refinamento ao espetáculo”, destaca Vinícius.
 
Espetáculo "A Língua do Fogo"
Quando: de sábado (13) a segunda (15), às 20h
Onde: Teatro de Bolso – Centro Cultural SESIMINAS BH (R. Padre Marinho, 60 – Santa Efigênia)
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Vendas pelo Sympla
 
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