Revista Encontro

Cultura

Festival Maurício Tizumba celebra a música e a ancestralidade no Lagoinha

Evento gratuito reúne Maíra Manga e a Guarda de Congo Feminino Nossa Senhora do Rosário, reafirmando o legado do congado e da cultura afro-mineira em BH

Da redação
Maíra Manga é uma das atrações do festival - Foto: Paulo Santos/Divulgação
A 2ª edição do Festival Maurício Tizumba e o Tambor Itinerante segue sua circulação por Belo Horizonte e chega ao Centro Cultural Lagoinha neste sábado (1º), às 16h, com entrada gratuita. A programação reúne a força do congado, representada pela Guarda de Congo Feminino Nossa Senhora do Rosário, do bairro Aparecida, e o show da cantora Maíra Manga, em um encontro que reafirma a potência da música e da tradição afro-mineira.
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Idealizador do festival, Maurício Tizumba ressalta que o tambor é um símbolo que transcende a música e guarda a essência da ancestralidade. “Ele é memória e presença. A cada toque, ecoa a força dos ancestrais e impulsiona os passos das novas gerações. É espiritualidade, resistência e também celebração da vida. O Festival nasce desse espírito, como um espaço de encontro e partilha, onde o congado e a música popular se encontram com a contemporaneidade. Assim, fortalecemos nossa identidade afro-brasileira e garantimos que a arte permaneça acessível, viva e transformadora”, define.
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O projeto tem como propósito aproximar o público das tradições do congado e do universo percussivo mineiro. Para a produtora-executiva Ana Paula Siqueira, a circulação descentralizada é o que dá força ao Festival. “Levar o tambor para diferentes regionais é abrir caminhos para que a tradição do congado dialogue com plateias diversas. Cada território recebe o Festival de um jeito próprio, e essa diversidade é o que faz o projeto crescer e se enraizar ainda mais na cidade”, diz.
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Maíra Manga

Dona de um timbre personalíssimo, Maíra Manga alia técnica e expressividade, colocando-se inteiramente a serviço da canção. Filha do compositor Célio Manga, cresceu em meio à música popular brasileira e desenvolveu um repertório plural. Em 2021, lançou pela gravadora Biscoito Fino o álbum “LÁ”, dedicado à obra inédita de Sergio Santos, em parceria com o poeta Paulo César Pinheiro. O trabalho contou com músicos como Rafael Martini, Felipe José e Luca Raele, além das participações de André Mehmari, Rodolfo Stroeter, Grupo Vocal Brasileirão e da St. Petersburg Studio Orchestra.
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Reconhecida pela crítica, Maíra recebeu, em 2022, o II Prêmio da Música Popular Mineira de Melhor Canção na categoria MPB e afins, pela faixa “Raoni”. Em sua trajetória, já dividiu o palco com nomes como Celso Murilo, Nailor Proveta e André Mehmari, consolidando-se como uma das vozes mais expressivas da cena mineira contemporânea.
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Guarda de Congo Feminino Nossa Senhora do Rosário

A história da Guarda Feminina Nossa Senhora do Rosário, do bairro Aparecida, é marcada pela resistência. Formada por filhas e netas dos integrantes da antiga Guarda de Congo dos Caducos (1940–1976), o grupo desafiou o estigma de que o congado não era espaço para mulheres e, desde 1973, reafirma a presença feminina no reinado.
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Dessa tradição também nasceu, em 1996, a Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo do Reino de São Benedito, ambas mantendo viva a herança dos reinos negros no bairro operário. Fundado em 1928, o bairro Aparecida guarda fortes vínculos com o congado e com práticas culturais que remontam ao período da escravidão. Seus reinados se tornaram símbolo de resistência e preservação da fé e da cultura afro-brasileira na capital mineira.
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Maurício Tizumba

Criador e protagonista do festival, Maurício Tizumba iniciou sua carreira artística na década de 1960 e é um dos nomes mais relevantes da cultura afro-brasileira. Ator, cantor, compositor, multi-instrumentista, escritor, diretor musical e capitão de reinado, Tizumba construiu uma trajetória dedicada à valorização do congado mineiro, manifestação religiosa e cultural negra que resiste há mais de três séculos.
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Seu trabalho une tradição, performance e pedagogia, refletindo o compromisso com a democratização do acesso à cultura e o fortalecimento das expressões populares. Além de sua atuação artística, Tizumba também é reconhecido pela formação de novas gerações de artistas e pela promoção da arte nos territórios, sempre em diálogo com o povo e com a rua.
 
2ª edição do Festival Maurício Tizumba e o Tambor Itinerante nas Regionais. Dia 1/11, sábado, às 16h, Centro Cultural Lagoinha – Rua Itapecerica, 239, Lagoinha, Belo Horizonte. Apresentações de Maíra Manga e da Guarda de Congo Feminino Nossa Senhora do Rosário. Entrada gratuita. 

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