A nova temporada será disponibilizada gratuitamente no canal da artista no YouTube, onde já está a primeira edição — lançada em 2024, com histórias de Gana, Angola, Tanzânia e Quênia. Desta vez, os episódios abordam mitos do Zimbábue, Nigéria, Egito e Namíbia, sempre acompanhados do quadro “Como será que se brinca lá?”, no qual Tamietti ensina jogos tradicionais ligados às narrativas apresentadas.
. Os quatro vídeos têm entre cinco e sete minutos. O primeiro episódio revisita a origem do mundo segundo o povo Shona, do Zimbábue, seguido do jogo Tsoro Yematatu, semelhante ao jogo da velha. No segundo, são apresentados os mitos sobre a origem das nuvens e das estrelas do povo iorubá, acompanhados da música “Bàtà mi á dún ko ko kà”, usada para ensinar ritmo e disciplina a crianças na Nigéria. A temporada segue com um mito egípcio sobre a criação dos humanos e a brincadeira O silêncio é de ouro, encerrando com a narrativa sobre as listras da zebra, contada pelos Bosquímanos, da Namíbia, e o jogo Chukulu, uma variação africana da “Cinco Marias”.
. A produção se apoia em mais de uma década de pesquisa de Jéssica Tamietti, que desde 2010 trabalha com narrativas míticas. A artista afirma que o projeto nasceu de uma lacuna percebida ainda na pandemia, quando atuava como professora de história. “Trabalhando como professora de história na pandemia, percebi que faltavam trabalhos focados em histórias africanas, de qualidade, com uma pegada mais lúdica e ao mesmo tempo didática. E a paixão por mitos etiológicos vem de longa data, então resolvi unir o útil ao agradável e me lancei no primeiro projeto audiovisual profissional. Acredito que a união dessa longa história como contadora à prática pedagógica gera um diferencial que permite compreender com maior profundidade a relação entre aprendizado, mídia, arte e suas influências no dia a dia dos alunos.”
. A origem familiar de Jéssica é marcada pela miscigenação comum entre os brasileiros: seu pai é negro, descendente do povo Bantu e bisneto de indígena. Os bisavós de sua mãe eram italianos, e vieram para o país para participar da construção da capital mineira. A artista conta que o lançamento da microssérie é também uma forma de homenagear e recuperar histórias que foram perdidas, não foram contadas ou foram silenciadas e que também representam a sua ancestralidade.
Tamietti destaca que o objetivo do projeto vai além da preservação das narrativas tradicionais e do estímulo às brincadeiras, compondo também um instrumento de reflexão sobre identidade e formação cultural. “Precisamos valorizar nossas origens, estudá-las, entendê-las, refletir sobre elas e seus impactos na cultura, e dessa forma difundi-las, ampliando este conhecimento e rompendo com ‘verdades culturais’ e estereótipos há muito tempo estabelecidos, e pouco relacionados à nossa realidade cultural ancestral", afirma.