Januzzi investiga como o amor aparece recorrentemente nas narrativas de agressores, usado como justificativa para o crime. Para ela, trata-se de “um amor narcísico, produto da identificação masculina ao ideal do Eu patriarcal”. Sua abordagem articula psicanálise e crítica política para analisar como o corpo da mulher, na cena do feminicídio, expressa uma cultura que naturaliza a misoginia e reproduz estruturas coloniais e patriarcais.
. A pesquisadora ouviu mulheres sobreviventes de tentativas de feminicídio e identificou um ponto comum nos relatos: a presença do amor romântico como mecanismo de aprisionamento simbólico. Segundo Januzzi, esse ideal paralisa e dificulta a ruptura com relações violentas, mesmo quando há risco iminente de morte. Esse aprisionamento, observa, se sustenta pela combinação de três fatores de risco: relações afetivas marcadas pela violência, valores conservadores religiosos que reforçam papéis de gênero rígidos e a indiferença do Estado, que falha em garantir proteção e redes de apoio.
. A edição integra o projeto Sábados Feministas, uma parceria entre a AML e o movimento Quem Ama Não Mata. A iniciativa faz parte do “Plano Anual Academia Mineira de Letras – AML (PRONAC 248139)”, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e conta com patrocínio do Instituto Unimed-BH. O encontro tem apoio do Esquina Santê.
. Sobre a convidada
Mônica Eulália da Silva Januzzi é psicanalista e professora adjunta do Departamento e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Doutora e mestre pela mesma instituição, tem pós-doutorado em Estudos Psicanalíticos pela UFMG/FAFICH. Coordena o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicanálise e Crítica Social no Contemporâneo (LAPCRIS) e integra grupos de pesquisa nacionais e internacionais ligados a psicanálise, clínica, política e violências de gênero. Suas pesquisas se dedicam às interfaces entre saúde mental, adolescências, feminino, psicanálise e decolonialidade.
Sábados Feministas – “Romantismo e feminicídio à brasileira: quem ama mata?”, com Mônica Januzzi. 21/11 (sexta), às 19h – portões abertos às 18h30, Academia Mineira de Letras – Rua da Bahia, 1466, Lourdes. Entrada gratuita.
.