O encerramento da edição 2025 acontece em três espaços simbólicos da cena teatral da capital: o Centro Cultural Casa de Candongas, a ZAP 18 e a Boate Andaluz. “A proposta do projeto é gerar uma rede de partilhas e reflexões sobre os modos de criação em grupo, e a necessidade de políticas públicas que dialoguem com a realidade desses artistas”, define Amaury Borges, cofundador da Maldita Cia.
. Ele explica que o Cena 3x4 “nasceu do desejo de criar espaço e tempo para o encontro entre grupos de teatro, suas formas de pensar e fazer arte e suas experiências com o chamado processo de criação colaborativa”. Criado em 2002 em parceria com o Galpão Cine Horto, o projeto promove encontros voltados para pesquisa de atuação, dramaturgia e direção, resultando em criações autorais e inéditas.
. Para Chico Pelúcio, diretor do Galpão Cine Horto, o Cena 3x4 é uma das mais importantes ações coletivas no cenário do teatro de Minas Gerais, especialmente em Belo Horizonte. “Os grupos e artistas, os trabalhos de pesquisa de linguagem, e os espaços culturais desses coletivos não encontram abertura para parcerias ou para a construção de políticas para o setor junto ao poder público. Não há representação e nem espaço para trocas. A importância do Cena 3x4 está na resistência da Maldita Cia. em organizar e viabilizar financeiramente esse projeto ante a total desarticulação do teatro mineiro”.
. Segundo Amaury Borges, esta edição faz parte do movimento de recriação do projeto, iniciado em 2023. “Desde o retorno do Cena 3x4, em 2023 com o ‘ofiCena 3x4’, temos nos perguntado sobre o que significa fazer teatro em coletivo hoje? O teatro de grupo é um ofício que precisa de dedicação e aprofundamento, de tempo para se perder antes de se encontrar, tempo que parece estar escasso”, pondera.
. Nesta edição, o Cena 3x4 se expandiu para diferentes territórios da capital e também para Sabará, em parceria com grupos de longa trajetória como Morro Encena, Teatro Kabana, Cia Candongas, ZAP 18 e o próprio Galpão Cine Horto. As atividades incluíram ensaios, rodas de conversa e trocas de experiências sobre os desafios de manter coletivos ativos ao longo das décadas.
. “O Cena 3x4 é um projeto onde cada pessoa busca seu lugar de fala dentro do grupo, num movimento que leva cada coletivo a se fortalecer. Após os encontros, saímos desta edição com alguns questionamentos: O que significa fazer teatro de grupo em tempos de precarização e uberização do trabalho e da vida? Como esse desafio se aprofunda quando falamos de corpos e territórios diversos? É impossível trabalharmos juntos, para tornar esse modo de fazer mais possível? Os desafios são imensos, o exercício de encontro e a troca nos parece o único caminho possível”, comenta Elba Rocha, coordenadora do projeto.
. Três novas criações
A Mostra Cena 3x4 2025 apresenta três espetáculos inéditos que refletem a diversidade de temas e linguagens do teatro contemporâneo.
. Em “Agora sou eu que entardeço”, a Cia. da Farsa aborda o envelhecimento e o etarismo com uma linguagem poética e afetiva. “Nosso processo foi movido por uma escuta muito atenta às memórias pessoais e coletivas. Partimos de histórias reais e de improvisações que nos colocaram diante do corpo que envelhece, mas que também insiste, deseja e resiste. O Cena 3x4 foi um divisor de águas para a Cia da Farsa, deu pra gente a visão de experimentar coisas novas, e todos se fortaleceram muito nesse processo”, afirma Sidnéia Simões.
. A peça “Post Festum: sobre a violência mítica”, do e Contraponto , investiga os limites entre violência e festa, com base em pesquisa em teatro físico. “Em ‘Post Festum’, o processo se desenvolveu a partir de workshops e improvisações que foram desenhando o roteiro da encenação. O compartilhamento do processo com os pares no Cena 3x4 provocou transformações no material, e o confronto com o público será um momento essencial de escuta e de reformulação viva do trabalho”, explica Paulo Rocha.
. Fechando a programação, a Breve Cia. estreia “assoviá pra chamar o vento”, em celebração aos 10 anos do grupo. “A partir do desejo de trabalharmos com drag kings e o universo da malandragem, iniciamos pelos arquétipos do Nêgo Doce e do Cria, extrapolando os estereótipos e buscando a humanização das masculinidades negras periféricas. O Cena 3x4 acendeu em nós o desejo de reocupar os espaços alternativos, reacendendo a pesquisa sobre dramaturgia do espaço que o grupo iniciou em seu primeiro espetáculo, há quase 10 anos”, pontua Anair Patrícia.
. Os trabalhos contam com dramaturgias inéditas, desenvolvidas ao longo do projeto em diálogo entre atuação, texto e direção. Uma das novidades desta edição foi a parceria com os Núcleos de Cenografia e Figurino do Galpão Cine Horto, que acompanharam a concepção visual das montagens.
. Essa integração reforçou o caráter formativo e experimental do Cena 3x4. “Neste ano, o projeto foi território de encontros improváveis, entre grupos e artistas de linguagens, territórios e idades diferentes. Além dos processos de criação entre os grupos selecionados, aconteceram diversas rodas de conversa com convidados, construindo uma rede com a participação direta de 10 coletivos teatrais. O convite é que desse encontro transborde uma mobilização de associações e parcerias solidárias entre esses e outros grupos”, afirma Elba Rocha.
. Mostra Cena 3x4 2025. De 6 a 14 de dezembro, em Belo Horizonte. Entrada gratuita mediante retirada de ingressos online. “Agora sou eu que entardeço” (Cia. da Farsa) – 6/12, às 20h, e 7/12, às 19h, ZAP 18 (Rua João Donada, 18, Santa Terezinha). “Post Festum: sobre a violência mítica” ( e Contraponto ) – 9 e 10/12, às 20h, Boate Andaluz (Rua Mármore, 644, Santa Tereza). “assuviá pra chamar o vento” (Breve Cia.) – 13 e 14/12, às 19h, Centro Cultural Casa de Candongas (Av. Cachoeirinha, 2221, Santa Cruz).