O ato pode parecer inofensivo, mas traz uma série de riscos. “Os cílios não estão ao redor dos olhos apenas por uma questão estética, eles exercem funções essenciais para a proteção e o bom funcionamento da superfície ocular”, ressalta o oftalmologista Lucas Zago Ribeiro, do Einstein Hospital Israelita em Goiânia.
. Esses pequenos fios atuam como uma barreira física contra poeira, sujeira e micro-organismos, além de ajudarem na filtragem do ar e da radiação ultravioleta. Também são altamente sensíveis e disparam o reflexo de piscar ao detectar algo se aproximando. Eles ainda contribuem para reduzir a evaporação da lágrima e evitar o ressecamento ocular.
. Ao removê-los desnecessariamente, todos esses mecanismos de proteção são comprometidos. O principal risco imediato é a lesão de estruturas delicadas, como a córnea e a borda palpebral. “O uso de lâminas ou objetos cortantes tão próximos aos olhos também pode causar ferimentos graves e dolorosos, com potencial de comprometer a visão”, alerta Zago.
. Além do risco de cortes, partículas dos próprios cílios podem cair sobre a superfície ocular durante a raspagem, provocando irritação, inflamação ou infecção. A ausência prolongada dos fios também aumenta a exposição a poeira, vento e micro-organismos, favorecendo quadros de blefarite (inflamação das pálpebras), infecções recorrentes e ressecamento ocular crônico, que costuma causar sensação de areia, coceira e vermelhidão.
. Cada olho tem entre 150 e 250 cílios, com crescimento médio de quatro a dez semanas após o corte. Porém, o trauma repetido pode danificar a raiz dos fios e causar falhas permanentes. “Quando há dano direto à borda palpebral, o cílio pode crescer mais fino, torto ou em menor quantidade”, avisa o oftalmologista.
. Outro problema comum é o desequilíbrio das glândulas palpebrais, responsáveis pela produção da camada oleosa da lágrima e que ajudam a evitar que a lágrima evapore rápido demais. Quando a raspagem altera essa região, o olho fica mais seco e exposto, o que pode intensificar o desconforto.
. Caso alguém já tenha raspado os cílios, Zago recomenda observar sinais de irritação, ardor, inchaço, dor, vermelhidão ou secreção ocular. É essencial procurar avaliação oftalmológica, já que o uso de colírios lubrificantes pode aliviar o desconforto. Somente o especialista pode identificar se há infecção ou inflamação mais grave.
. Embora ainda não existam estudos específicos sobre a raspagem estética dos cílios, a literatura médica já descreve situações em que eles são removidos por indicação terapêutica, como em quadros de triquíase (crescimento invertido dos cílios) ou distiquíase (nascimento de fileiras extras). “Mesmo nesses casos, a remoção é feita sob supervisão médica e com técnicas especializadas. Fora desse contexto, o risco é desnecessário”, frisa o oftalmologista do Einstein Goiânia.
Além dos impactos físicos, o médico chama atenção para o papel das redes sociais na disseminação desse tipo de comportamento.
“Influenciadores com milhões de seguidores precisam ter consciência de que suas ações têm impacto. Quando divulgam práticas sem base científica, podem induzir comportamentos perigosos, principalmente entre adolescentes que repetem o que veem por curiosidade ou estética”, alerta Lucas Zago.