Revista Encontro

Meio-ambiente

Condição da água nos rios da Mata Atlântica ainda preocupa

Alerta consta de relatório da fundação SOS Mata Atlântica

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- Foto: Acervo ICMBio/Divulgação

De acordo com relatório divulgado nesta sexta, dia 22 de março, pela Fundação SOS Mata Atlântica, apenas 6,5% dos rios pertencentes ao bioma Mata Atlântica apresentam qualidade da água considerada boa e própria para o consumo. Dos 278 pontos de coleta de água monitorados em um total de 220 rios, 74,5% apresentam qualidade regular; 17,6% são ruins; e, em 1,4%, a situação é péssima. Nenhuma amostra foi considerada ótima.

O documento aponta que os rios estão perdendo lentamente a capacidade de abrigar vida, de abastecer a população e de promover saúde e lazer para a sociedade.

"Os rios brasileiros estão por um triz, seja por agressões geradas por grandes desastres ou por conta dos maus usos da água no dia a dia. Nossos rios estão sendo condenados pela falta de boa governança", afirma Malu Ribeiro, assessora da SOS Mata Atlântica, citada pela Agência Brasil.

A qualidade de água péssima e ruim, obtida em 19% dos pontos monitorados, revela que 53 rios estão indisponíveis – com água imprópria para usos – por conta da poluição e da precária condição ambiental das suas bacias hidrográficas, segundo a fundação.

O relatório traz ainda o balanço das análises feitas em 220 rios, de 103 municípios dos 17 estados abrangidos pela Mata Atlântica. Nos 278 pontos monitorados, foram feitas 2.066 análises de indicadores internacionais que integram o Índice de Qualidade da Água, composto por 16 parâmetros físicos, químicos e biológicos na metodologia desenvolvida pela SOS Mata Atlântica.

Considerando apenas 236 pontos de coleta, os índices considerados regular (78% em 2018 e 75,4% em 2019) e ruim (17,4% em 2018 e 16,9% em 201) não apresentaram diferenças significativas. Já os pontos péssimos passaram de zero para três e os considerados bons de 11 para 15.

"As contaminações refletem a falta de saneamento ambiental, a ineficiência ou falência do modelo adotado, o desrespeito aos direitos humanos e o subdesenvolvimento", comenta o biólogo Cesar Pegoraro, educador ambiental da Fundação SOS Mata Atlântica, também citado pela agência estatal de notícias.

Para melhorar o índice de qualidade das águas da Mata Atlântica, a entidade avalia ser fundamental que a Política Nacional de Recursos Hídricos seja implementada em todo território nacional, de forma descentralizada e participativa, por meio dos comitês de bacias hidrográficas.

A fundação ressalta ainda que os rios que se mantiveram na condição boa ao longo de anos, comprovam a relação direta com a existência da floresta, de matas nativas e as áreas protegidas no seu entorno. "O inverso também está demonstrado por meio da perda de qualidade da água, nos indicadores ruim e péssimo obtidos quando se desprotege nascentes, margens de rios e áreas de manancial, com o uso inadequado do solo e o desmatamento", diz trecho do relatório da SOS Mata Atlântica.

São Francisco

Entre os principais alertas feitos pela entidade a partir do resultado do estudo das amostras, está o fato de que o rio São Francisco já está contaminado com rejeitos do rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, da empresa Vale, no município de Brumadinho (MG).

Dos 12 pontos analisados no São Francisco, nove estavam com condição ruim e três, regular, o que torna o trecho a partir do reservatório de Retiro Baixo – entre os municípios de Felixlândia e Pompéu – até a represa de Três Marias, no Alto São Francisco, com água imprópria para uso pela população.

Nesses pontos de coleta, a turbidez (transparência) estava acima dos limites legais definidos pela Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio-Ambiente (Conama), para qualidade da água doce superficial. Em alguns locais, esse indicador chegou a alcançar duas a seis vezes mais que o permitido pela resolução.

Segundo a SOS Mata Atlântica, as concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre também estavam acima dos limites máximos permitidos pela legislação, o que evidencia o impacto da pluma de rejeitos de minério sobre o Alto São Francisco.

"Os dados comprovam que o reservatório de Retiro Baixo está segurando o maior volume dos rejeitos de minério que vem sendo carreados pelo rio Paraopeba.
Apesar das medidas tomadas no sentido de evitar que os rejeitos atinjam o rio São Francisco, os contaminantes mais finos estão ultrapassando o reservatório e descendo o rio e já são percebidos nas análises em padrões elevados", alerta a fundação no documento.

(com Agência Brasil)
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