Revista Encontro

Tragédia de Brumadinho

Água do Paraopeba está imprópria em 305 km do rio

Isso segundo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica

Encontro Digital
- Foto: Alexandre Rezende/Encontro

De acordo com relatório divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica, nesta quarta, dia 27 de fevereiro, o nível de cobre nas águas do rio Paraopeba, em Minas Gerais, chega a ser 600 vezes maior do que o permitido em redes fluviais usadas para o abastecimento humano, irrigação de culturas, pesca e atividades de lazer.

O limite aceitável de cobre é 0,009 mg/l (miligramas por litro), mas variou de 2,5 a 5,4 mg/l nas 22 amostras recolhidas pela SOS Mata Atlântica em expedição realziada ao longo de 305 km do Paraopeba.

A conclusão do relatório é de que o rio perdeu a condição de importante manancial de abastecimento público e usos múltiplos da água em razão das 14 toneladas de rejeitos de minérios arrastadas e depositadas nele após o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), ocorrido no dia 25 de janeiro.

Segundo o levandamento da fundação, 112 hectares de florestas nativas foram devastados por causa da lama de rejeitos, sendo 55 hectares de áreas bem preservadas.

"Os metais que nós encontramos são ferro, cobre, manganês. Não fazem mal à saúde em pequenas quantidades. A diferença entre o veneno e o remédio é a dosagem. Eles se tornaram tóxicos por conta da quantidade que temos na água, muito superior ao que é determinado por lei", comenta a bióloga Marta Marcondes, professora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, em entrevista à Agência Brasil.

O consumo de quantidades relativamente pequenas de cobre pode provocar náuseas e vômitos, mas, se ingeridas em grandes doses, podem causar danos nos rins, inibir a produção de urina e gerar anemia devido à destruição de glóbulos vermelhos, segundo o relatório da SOS Mata Atlântica.

A bióloga explica que altos níveis de cobre causam oxidação de vitamina A, o que provoca a redução de vitamina C no organismo. Com isso, podem surgir dores musculares, fadiga, distúrbios de aprendizado e até potencializar quadros de depressão. "O cobre ocasiona muito o processo de depressão. Imagina uma pessoa que perdeu família e tudo que ela tinha, tem um acúmulo de cobre e já está em um processo depressivo, isso vai potencializar tudo isso", diz Marta Marcondes.

Além de ferro, manganês e cobre, foi encontrado nível de cromo até 42 vezes maior do que o aceitável na legislação, que seria 0,05 mg/l. Como consequência, o consumo desse metal pode causar efeitos mutagênicos e até morte.
"O cromo é um dos mais perigosos porque ele vai alterar a questão genética dos organismos e também pode afetar o sistema nervoso. Isso tudo com certeza vai alterar todo processo de homeostase , podendo ocasionar, por exemplo, lesões no sistema nervoso e doenças degenerativas", afirma a especialista à agência estatal de notícias.

Alerta

O rio Paraopeba era responsável por 43% do abastecimento público da região metropolitana de Belo Horizonte. Diante da impossibilidade de uso de suas águas em pelo menos 305 km de seu leito, a SOS Mata Atlântica apela para que a comunidade economize o recurso hídrico, mesmo que o abastecimento esteja sendo realizado por afluentes que não foram contaminados, por cisternas e poços.

"Mesmo tendo outros rios, as pessoas economizem, porque a gente não sabe por quanto tempo não vai poder se utilizar a água do Paraopeba e quanto tempo esses outros rios têm condições de atender as necessidades dessas comunidades afetadas. É uma situação de emergência", comenta Malu Ribeiro, especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica, também em entrevista à Agência Brasil.

Outra questão que requer atenção, segundo a especialista, é a maior proliferação de doenças que têm como vetores os insetos – como dengue, zika, chikungunya e febre amarela –, na região da bacia do rio Paraopeba.

"Porque, como a fauna que existia no ambiente do Paraopeba, os peixes, os anfíbios, os predadores dos insetos morreram, vai haver um aumento de insetos. E com isso aumenta o risco de doenças causadas por esses vetores", adverte Malu, lembrando da vacinação e do cuidado no armazenamento de água.

(com Agência Brasil).