Revista Encontro

Saúde

Bactérias resistentes a antibióticos são encontradas na natureza

Micro-organismos estão sofrendo mutação genética para criar resistência

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- Foto: Pixabay

Acriflavina, fluoroquinolona e meticilina são antibióticos muito usados no tratamento de infecções bacterianas que acometem, por exemplo, os aparelhos respiratório e urinário. O problema é pesquisadores encontraram inúmeros micro-organismos resistentes a essas substâncias em manguezais da Índia, da Arábia Saudita e do Brasil, bem como em outras partes do mundo. O achado, que contou com a contribuição de professores do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, chama atenção para o surgimento das "superbactérias" – patógenos imunes à ação dos antibióticos –, o que pode ocorrer caso o material genético seja transferido entre as colônias de bactérias desses locais.

A população de micro-organismos identificada nos manguezais das três regiões foi mapeada geneticamente e comparada com amostras de ambientes diversos, entre terrestres e marinhos. Segundo o estudo, em todos os ecossistemas analisados há prevalência de genes de resistência a antibióticos e a metais pesados como cobalto, zinco e cádmio. Bactérias resistentes a esses materiais geralmente têm mecanismos de exclusão de toxinas mais eficientes, o que poderia contribuir para o processo de limpeza ambiental.

"Isso pode ser explicado porque os ambientes da Terra se interligam, especialmente, por meio dos ciclos da água no oceano. Em ambientes terrestres, embora com menos facilidade, também ocorre transferência de material genético", afirma o professor Aristóteles Góes-Neto, da UFMG, um dos autores do estudo, em entrevista para o jornal acadêmico Boletim.

Mediante a comparação das bactérias dos manguezais com as de oceanos, florestas, campos, pastagens e áreas de cultivo agrícola de todas as partes do mundo, os pesquisadores observaram que o padrão se repetiu não só nas áreas próximas às cidades – onde há influência de fatores como descarte de esgoto –, mas também nos lugares mais remotos e preservados. "Isso mostra que os efeitos da ação humana não ficam isolados, mas se propagam em todas as direções", diz Góes-Neto.

A pesquisadora Aline Martins Vaz, também da UFMG, lembra que a acriflavina, a fluoroquinolona e a meticilina estão entre os antibióticos mais indicados e utilizados para combater infecções hospitalares. "Se bactérias patogênicas adquirirem na natureza os genes de resistência àqueles fármacos, os tratamentos serão dificultados, e mais mortes poderão ocorrer", alerta a cientista ao periódico.

Considerando as limitações do recorte geográfico da pesquisa, a pesquisadora salienta que os genes em questão podem estar ainda mais concentrados em locais que não foram investigados.
"As bactérias multirresistentes, possivelmente, serão mais comuns em um futuro próximo", projeta. Os resultados sinalizam, em seu entendimento, a necessidade de políticas públicas de orientação à população, visando diminuir a poluição ambiental. "O uso indiscriminado de antibióticos também pode gerar impactos de longo prazo", afirma Aline Vaz.

O trabalho contou com a ajuda de cientistas das universidades americanas Virginia Commonwealth University e Virginia Tech, e das indianas Central University of Kerala, Institute of Integrative Omics and Applied Biotechnology e University Center for Science Education and Research.

(com Boletim da UFMG).