Revista Encontro

Agronegócio

Produtos animais geram mais gases do efeito estufa

Isso foi constatado por um estudo brasileiro

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- Foto: Pixabay

Produtos de origem animal, especialmente a carne bovina e os laticínios lideram o ranking de alimentos cuja produção leva à maior emissão de gases do efeito estufa. No Brasil, esse tipo de poluição atmosférica corresponde de 93% a 98% das emissões, dependendo da região. Já entre os alimentos de origem vegetal, a produção de arroz desponta como principal responsável pelos gases perigosos. A conclusão faz parte de pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), de São Paulo.

"O sistema agroalimentar tem afetado as mudanças climáticas por ser uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa, sobretudo de metano, pela fermentação entérica do gado e pelo cultivo de arroz; óxido nítrico, em virtude do manejo dos solos e do uso de fertilizantes nitrogenados; e dióxido de carbono, devido ao uso de combustíveis fósseis nos vários segmentos da cadeia agroindustrial. Essas emissões variam de produto para produto, mas nesse cenário, a criação de gado bovino apresenta dados alarmantes e, segundo alguns autores, é responsável por quase 20% das emissões mundiais", comenta o professor Danilo Rolim Dias de Aguiar, orientador do estudo, em entrevista ao portal da UFSCar.

De acordo com ele, a pesquisa traz informações inéditas sobre as emissões de gases do efeito estufa associadas às dietas alimentares no Brasil e podem ajudar no planejamento de políticas visando minimizar o problema. "Apesar de a adoção de dietas ambientalmente corretas por parte dos brasileiros não ser suficiente para reduzir substancialmente as emissões do nosso setor agrícola, já que muito do que produzimos se destina aos mercados externos. Um novo padrão de consumo dentro do país poderia juntar forças com tendências similares que estão ocorrendo internacionalmente e induzir nossa agricultura em direção à produção de baixo carbono", diz Aguiar.

Segundo o pesquisador, alguns estudo afirmam que os sistemas de produção devem mudar para reduzir as emissões. Outros, no entanto, enfocam o consumo, argumentando que os consumidores precisam mudar suas dietas para que as emissões diminuam.
"Nossas pesquisas seguem o enfoque do consumo, tendo como objetivo investigar quais são as diferenças, em termos de emissões, entre as dietas consumidas por indivíduos de diferentes níveis de renda que vivem em diferentes regiões do país", conta o professor da UFSCar.

"As emissões de gases do efeito estufa estão positivamente correlacionadas à renda, uma vez que indivíduos de maior renda são justamente aqueles que ingerem mais produtos de origem animal. Verificamos também que os moradores das capitais localizadas no norte do Brasil têm dietas com mais impacto ambiental do que os moradores de outras regiões, enquanto que, para o estado de São Paulo, as dietas de pessoas do meio rural ou de cidades pequenas 'emitem' mais do que a dos moradores da cidade de São Paulo e da região metropolitana", detalha Danilo Aguiar.

Além disso, os resultados do estudo mostram que se os impostos cobrados sobre os alimentos fossem coerentes com o custo ambiental causado por eles, poderia desencorajar a produção e o consumo dos alimentos com maiores impactos ambientais. "No entanto, os impostos atuais são muito baixos para os alimentos que mais emitem gases do efeito estufa e muito altos para os de baixo impacto ambiental, o que pode estar restringindo o consumo de alimentos de baixo impacto e estimulando o consumo de produtos associados a maiores emissões", comenta o professor.

(com portal da UFSCar).