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Memória

É possível aprender dormindo, segundo novo estudo

Porém, ruídos contínuos podem afetar a qualidade do sono

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- Foto: Pexels

Você acha que é possível aprender dormindo? Segundo um estudo realizado por cientistas do Instituto de Psicologia e Centro de Cognição da Universidade de Berna, na Suíça, os seres humanos são capazes de aprender inconscientemente novos conceitos e fazer determinadas associações com eles.

A pesquisa contou com 41 participantes que usaram fones de ouvido e ficaram ouvindo dois pares de palavras durante o sono. Uma delas era inventada e a outra, um conceito conhecido. Após acordar, eles conseguiam recordar os vocábulos e seus significados, como relatam os cientistas no artigo publicado na revista especializada Current Biology em fevereiro deste ano.

Enquanto parte dos voluntários escutou "guga e pássaro", outros ouviram "guga e elefante". No dia seguinte, os cientistas interrogados os voluntários se a palavra "guga" se referia a algo grande ou pequeno, se cabia numa caixa de sapatos. De acordo com a pesquisa, se os vocábulos eram reproduzidos na fase do sono profundo designada "up state", 60% dos participantes classificavam corretamente as palavras inventadas.

Nessa fase do sono profundo, que só dura cerca de meio segundo, o eletroencefalograma registra que todas as células cerebrais estão ativas conjuntamente. Ela se alterna com a "down state", em que não há atividade entre as diversas áreas do cérebro.

De acordo com o pesquisador Marc Züst, coautor do estudo, citado pela emissora estatal alemã Deutsche Welle, é preciso ter cuidado com falsas interpretações dos resultados. O experimento demonstra ser possível aprender com o inconsciente 100% ativo, porém, não é saudável ouvir várias palavras durante a noite, esperando que sejam armazenadas na memória. O barulho constante, conforme o cientista, é antes uma fonte de perturbação para o sono adequado, podendo ter efeitos indesejados.

Ainda assim, a possibilidade de aprender inconscientemente pode ser aproveitada como terapia.
Segundo Peter Young, presidente da Associação Alemã de Pesquisa e Medicina do Sono, entrevistado pela Deutsche Welle, trata-se de "uma nova dimensão da concepção de sono". Ele acha possível que os conhecimentos possam ajudar na reabilitação após acidentes ou doenças.

Há um bom tempo é sabido que aquilo que se aprende em estado consciente é consolidado no sono, lembra Young. "Quem toca flauta à noite em geral consegue tocar a peça melhor pela manhã, pois o efeito de aprendizagem se consolida com o bom sono", completa o especialista.

(com Deutsche Welle).